terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A esfinge hipócrita


Por EVERTON PEREIRA

No dicionário, pelo menos no meu Luft, hipocrisia consta como: “Afetação de qualidade ou sentimentos louváveis, que não se tem; fingimento; simulação.” Com a atual crise que passam certos países do Oriente Médio como Egito e Tunísia, observa-se que a hipocrisia é não só uma característica da micro-política, da política pequena, de bairros e interiores como também da macro-política, da política internacional inclusive. Discursos alternam-se de oito para oitenta num piscar de olhos. Hipocrisia. Puro fingimento como sugere meu velho Luft. Simulação. Simula-se a defesa de causas nobres quando elas são interessantes. Interessantes no sentido que dizia Brizola: “dos interésses obscuros”.

A própria grande mídia que costumasmente se alvoroça quando o assunto é “direitos humanos”, “liberdade de imprensa” ou “democracia”, relativiza o bem e o mal sempre que necessário for. Realmente é complicado entender esse jogo. Uma hora todas as ditaduras são ruins, demoníacas. Cuba, Irã, China e até mesmo a Venezuela e a Bolívia, que possuem eleições livres e diretas, são classificadas como “eixo do mal”. Depois, a China vira exemplo de “pujança econômica” para o mundo, com direito até a cobertura do Globo Repórter. “Diga-me de quem compras que te fareis democrática ou não”. Ridículo.

Voltemos às pirâmides e a esfinge. O Egito foi o segundo receptor de ajuda externa dos Estados Unidos, perdendo somente para Israel. O ditador Mubarak recebe anualmente desde que tomou conta do poder há 30 anos, 2 bilhões de dólares que são gastos em sua maioria nas forças armadas. Só que este dinheiro todo não fica muito tempo longe dos EUA. Com a compra de aviões F-16, tanques, mísseis M-1, pistolas, latas de gás lacrimogêneo e motores de aviões ele retorna para a origem. Ótimo negócio pra a indústria bélica norte-americana (patrocinadora das campanhas eleitorais tanto de republicanos como de democratas) e também para as forças armadas egípcia, que é a força dominante no país desde a queda da Monarquia em 1952.

Sendo a 10ª força militar do mundo, 3,4% do PIB do país é gasto em armamentos. Além dos recursos financeiros que patrocinam as forças armadas, os norte-americanos “ajudam” o Egito recebendo oficiais para estudarem em suas escolas militares. Tudo isso a troco de quê? Dizem os norte-americanos que é para “manter a estabilidade na região”. Na verdade, os interesses americanos. Graças a posição estratégica devido ao Canal de Suez e a questão geopolítica envolvendo a ligação entre o Oriente Médio e o continente africano, somado a proximidade com Israel, o Egito é “liberado” pelo ocidente para ser uma ditadura sem que ninguém o acuse diariamente disso. Como diria Maquiavel: “Os fins justificam os meios”.

Agora resta saber para onde vai o Egito do pós-Mubarak. Dificilmente tomará o mesmo rumo que a revolução iraniana. Deve-se manter laico, mas com a estrutura de poder de Estado intacta com máscara de democracia (o sonho de consumo norte-americano). A grande novidade disso tudo é o acontecido: milhões de jovens (maioria dos 80 milhões de habitantes) foram às ruas de forma pacífica, espontânea e sem líderes. Apenas articulados pela internet e pelos celulares imbuídos do fervor democrático. Isto, nem que feche os olhos a esfinge não poderá deixará de ver. Boa pedida em época de Fórum Social Mundial.

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