sábado, 29 de junho de 2013

domingo, 17 de março de 2013

O Papa quer ser pop



Por: EVERTON PEREIRA
Em: 15-16/03/2013

Passados mais de 1.500 anos do fim do Império Romano, relances de história nos são trazidos pela escolha do novo Bispo de Roma. Com a conversão romana ao catolicismo quase quatro séculos após a justiça romana ter condenado Jesus a pena de morte em voga na época, não foi só os deuses romanos que passaram a ler a bíblia, mas a Igreja virou Católica (do grego “universal”) e foi reestruturada de acordo com a administração e burocracia romana. Ainda hoje, cargos religiosos da Igreja tem o mesmo nome que possuíam na administração pública do Império, entre eles o do próprio imperador que assim com o Papa, era chamado de “Sumo Pontífice”. Era a exata união entre a religião e governo, assim como permanece em vigor ainda hoje na cidade-Estado do Vaticano, uma das raras monarquias absolutistas do mundo.

O estranho disso tudo, a meu ver, é que acostumamos a falar de papas e conclaves sem falar de Cristo e muito menos de seu Pai. A herança desta misturança romana-católica de fé e política fez da Igreja Católica Apostólica e Romana um credo talvez “muito deste mundo” - tanto para o bem quanto para o mal. O novo Papa e seus eleitores parecem saber disso. A escolha do nome é o primeiro indício. Mesmo que seja aos olhos de alguns (como aos meus, por exemplo) uma verdadeira heresia um Papa, alguém que parece estar mais próximo de César do que de Deus, querer comparar-se com aquele que foi um dos maiores exemplos de espiritualidade da tradição cristã, São Francisco de Assis, o ato no mínimo indica a preocupação com as questões ambientais e com o retorno a uma humildade inicial da Igreja. Humildade que o argentino Jorge Mario Bergoglio faz questão de expor a cada aparição, seja através das vestimentas ou da comunicação fácil e direta.

Sem dúvida são avanços e novos caminhos positivos. Mas é importante lembrar que o cardeal Bergoglio pertence à ala conservadora da Igreja e por tanto não deve trazer mudanças mais ambiciosas. Ao escolher um latino-americano Roma demonstra sensibilidade com a importância geopolítica que a região vem tendo na última década e me parece que da mesma forma que elegeu um polonês para combater o comunismo durante a Guerra Fria, agora tenta se aproximar e entender um pouco mais esta América Latina de governos contraditórios, mas no mínimo com personalidade. Continuamos a falar em papas, mas nada de Deus. O motivo pelo qual a Igreja existe por mais de 2 mil anos que é a fé e os ensinamentos de Jesus, raramente foram alvo dos noticiários ou entrevistas sobre o conclave. Este mundo cada vez menos sagrado, dessacraliza a própria Igreja. A transforma como o próprio Francisco afirmou: “em uma ONG caridosa”. O mundo que ela não mudou e teima em não ser mudada por ele. A grande tarefa do Papa Francisco talvez seja justamente simplificar a Igreja assim como tentou um dia seu xará: dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Até o Papa caiu



Por: EVERTON PEREIRA

Março começou com toda força, só está faltando as tais águas para fechar de vez o verão que não foi bem verão. Os latino-americanos enterraram esta semana o mais polêmico líder da mais polêmica ainda, esquerda continental. Oriundo de família pobre e filho de professores, Hugo Chávez ainda jovem trocou o sonho de viver do beisebol pela carreira militar. Na caserna, aderiu ao 'nacionalismo' bolivariano e fundou o Movimento pela Revolução Bolivariana. Em 1992 liderou um golpe fracassado contra o então presidente Carlos Andrés Pérez, um governo neoliberal afundado em denúncias de corrupção e que enfrentava uma grave crise econômica e política. Seis anos depois era o presidente da Venezuela e propunha um talvez bem intencionado, mas um tanto mal planejado e brega “Socialismo do Século XXI”. No fundo era o velho e populista, caudilho latino-americano cantado por Caetano em Podres Poderes. Deu de comer a quem antes tinha fome, com certeza, mas fez mau uso do já surrado “socialismo”.

E quem diria, neste mesmo março, os católicos terão um novo Papa. Bento XVI entra para a história como um dos raros que pediram pra sair. O que, porém, parece ter pesado sobre a decisão do cardeal Joseph Ratzinger de renunciar ao papado, teria sido justamente a sua incapacidade de lidar com essa nova realidade que toma conta da Igreja. Os escândalos sexuais envolvendo o alto clero, a quebradeira que ronda o Banco do Vaticano e a secularização da sociedade são demais para um Papa da idade de Bento XVI com sérios problemas de saúde. Mas apesar de doente o Papa continua uma mente brilhante do Vaticano. Um dos motivos da renúncia pode ser o seu desejo de, literalmente, chacoalhar a própria Igreja. Com seu gesto extremo, ele tentaria desmontar uma estrutura que se mostrou muito mais resistente do que o poder imperial que se atribui ao papado. De outro, porém, e não necessariamente como gesto inconsciente, o cardeal pode ter entrado em desespero - o que dá na mesma. Vai saber...

Até o Papa caiu, mas não só ele. Chorão também e morto, pra confirmar que as drogas matam mesmo. Que não é papo de careta. Nas palavras dele: “Difícil é desviar de quem tá sempre querendo, ela mantém a porta aberta, ela te faz instrumento. Vai te dominar, se já não dominou”. Foi tarde demais para desviar...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Volta às aulas



Por: EVERTON PEREIRA
Em: BN (22-23/02/2013)

Um só ano e vários recomeços. O primeiro de janeiro. O pós-Carnaval. E agora um
ano novo letivo e a volta às aulas. O reencontro de, principalmente, alunos e professores. Mas
também de pais, familiares, servidores, enfim, toda a comunidade escolar. Um novo reinício
apesar do já batido “como todo recomeço uma nova oportunidade para a evolução” - neste
caso, na educação.


Bons ventos parecem soprar às velas deste já barulhento recomeço.
Trabalhadores da educação – educadores – unidos na luta por melhores condições de salário.
E isso, aqui em Butiá!!! Direitos avançam, mentes avançam! A profissão de professor como
vocação só pode se desenvolver em sua plenitude e dar os frutos esperados pela sociedade se
for encarada como política estratégica de múltiplo desenvolvimento. Desta maneira, recebendo
o investimento material, humano e filosófico necessário. Um governo que desde seu início
jamais citou a educação como prioridade, haja vista os recorrentes equívocos cometidos, deve
agora, reconhecer este erro e aproveitar a oportunidade histórica (do ponto de vista financeiro)
em que o partido governista detém o poder sob a máquina estatal nos três níveis da Federação,
para compensar o tempo perdido e pagar a dívida com educação em seu sentido pleno, ou
seja, de projeto de futuro.

A volta às aulas é um momento de ansiedade e reflexão. Ansiedade para voltar a
uma atmosfera em que somos responsáveis por centenas de jovens e crianças e ao mesmo
tempo temos a oportunidade de compartilhar um pouco do mundo ainda encantado deles. Por
isso que educar é uma troca diária. Trazemos o aluno ao “mundo dos adultos” com seus
conhecimentos e “fórmulas importantes” e eles nos levam a um mundo mais leve, agitado é
verdade, mas que dá saudade em tempos de férias. A volta às aulas representa a volta à luta.
A luta diária por um mundo melhor do ponto de vista em que todos tenham lugar. A luta por
melhores condições de trabalho para aqueles que ao acreditarem ainda nesta possibilidade,
muitas vezes se submetem a receber salários de vergonha em uma profissão de orgulho. A
volta às aulas é a volta de tudo aquilo que nós professores e alunos reclamamos o ano todo e
tanto sentimos falta nas férias... Boa Educação em 2013!

Crédito fotografia: OG!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O papa e os direitos humanos



Por: EVERTON PEREIRA

As questões ligadas aos direitos humanos não raras vezes são alvo de polêmicas. Debates apaixonados e quase sempre passionais inundam as redes sejam elas sociais ou televisivas para mostrar “quem defende o ladrão” e “quem quer ver o ladrão morto”. Crimes passionais com requintes de crueldades são utilizados como exemplos pelos eternos defensores da pena de morte. A influência do meio, a miséria, o descaso social e problemas de ordem psíquica são a defesa dos “humanistas defensores da vida”. Sem esmiuçar o caso – não é esta a finalidade aqui – a morte dos assaltantes em Arroio do Ratos é um acontecimento típico que traz a tona a delicada questões que comumente simaplificamos com o clichê de “direitos humanos”. Mas que na verdade é muito mais profundo que isso. Trata-se de “direito a vida” e mais ainda, a “pena de vida”.

O papa em questão no título não é o renunciante Bento XVI, mas seu antecessor, João Paulo II, que sempre achei um conservador (foi chefe do processo de “inquisição” contra Leonardo Boff) disse e escreveu coisas interessantes sobre os direitos humanos e a pena de morte. Disse por exemplo que temos, enquanto sociedade, tecnologia suficiente para manter inofensivo (preso) quem comete um crime e desta forma vivo (pena de vida) para que só assim possa, se possível, se redimir. Em uma de suas encíclicas, João Paulo II afirma magnificamente algo que simplifica isso tudo, inclusive do ponto de vista laico e cristão: é errado ensinar que é errado matar, matando. Mesmo sendo um discurso proferido por um líder religioso, a questão da violência é, antes de mais nada uma questão espiritual e pedagógica. Espiritual porque ela põe em risco e interfere em nosso direito a vida que é algo natural e não pode ser manuseado nem por um Estado nem por uma doutrina qualquer. Pedagógica porque aprendemos muito mais com a ação do que com a teoria. É numa sociedade pacífica que seremos pacíficos e não numa sociedade que mata em cadeiras elétricas ou em fuzilamento e enforcamentos estatais que aprenderemos a paz e a não-violência.

A necessidade de conhecermos a nós mesmos, nossos instintos e desejos primitivos fará com que saibamos lidar melhor com sentimentos e impulsos. Os sentimentos de vingança e raiva, por exemplo, são comuns frente a crimes hediondos, mas é justamente para “frear” esta “irracionalidade” que existe bem ou mal o sistema de justiça. As mensagens de “solidariedade” aos policiais que mataram os quatro homens, apesar de serem a meu ver, desproporcionais ao fato em si - o roubo de bens materiais sem vítimas e com o valor segurado pela rede bancária – é o retrato da insegurança material e psicológica em que as pessoas vivem, onde a morte passa a ser festejada. Cria-se um tribunal de rua nas redes sociais, nas praças e esquinas onde todos sentem-se aptos a julgar o outro. O problema é quando de juízes viramos réus e nós ou o que é pior, àqueles que nos são queridos viram alvo de julgamentos ou de “balas justiceiras”.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A República de Calheiros


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (08-09/02/2013)

A política é a arte das jogadas ensaiadas, basta ler e ver os noticiários lá e acolá. Indícios de um processo de “limpeza do nome” do estandarte da ética nacional, já haviam sido dados com a indicação do nome de Renan Calheiros para a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. Num atestado de total desconexão com seus representados, os senadores deste país parecem viver numa espécie de mundo imaginário. O pessoal do CQC tirou sua casquinha: “Era pra ser piada, mas é a mais pura realidade!”

A eleição de Calheiros para a presidência do Senado consolida um projeto pragmático e patrimonialista de poder comandado e liderado pelo PT e PMDB. Pragmático porquê não se importa com os meios utilizados para a manutenção do poder, mesmo que seja com a indicação de um político que há cinco anos atrás teve que renunciar a esta mesma presidência devido a uma série de denúncias. Patrimonialista porque mantém o velho cacoete da velha política que mistura o público e o privado, onde grupos sejam famílias, empresas ou partidos apoderam-se da máquina do Estado e passam a utilizá-la para seus interesses restritos e sob a lógica da manutenção do poder, excluindo deste processo a imensa maioria da população, verdadeira proprietária da estrutura pública. Usam o Estado como se fosse seu patrimônio particular.

Para homens como Renan Calheiros, o poder mantém o ego tão embriagado que não lhe passa pela cabeça que o povo brasileiro não é o idiota contente que ele e seus amigos imaginam. Como se não bastasse retomar o posto em que fugiu pela porta dos fundos em 2007, o novo presidente teve ainda o desplante de proferir um discurso sobre ética, tão logo foi confirmada sua vitória. "Eu queria lembrar que a ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o Brasil, é o interesse nacional. A ética é meio, não é fim, é dever de todos nós", disse a seus pares do alto de sua tribuna.

Tanto a eleição de Renan Calheiros como a de Henrique Alves para a Câmara dos Deputados representa mais que a vitória de dois corruptos para o comando do Congresso Nacional. Ela sela a aliança do PT com o PMDB com vistas para as eleições de 2014 e mostra como o governo perpetua as velhas oligarquias em favor de seu projeto de poder, tal como se dá com nome não menos abonadores como os dos ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney. Sem partidos políticos orgânicos e programáticos, com políticos profissionais e não vocacionais e a eterna cultura política latino-americana do populismo e da corrupção endêmica; economia, cidadania e vida política vivem cada vez mais distantes uma da outra no Brasil. Enquanto nada muda, fica o recado do Facebook: “Este Senado não me representa!”

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Os holofotes da falsa caridade


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (26-27/01/2013)

Há no kardecismo um ensinamento que afirma que nossa mão esquerda não deve saber o dá a nossa mão direita. Ele fala de maneira profunda e ao mesmo tempo direta sobre a caridade, um conceito que norteia todo o pensamento verdadeiramente cristão e por isso também espírita. A ação da caridade vai desde a forma direta quando ajudamos materialmente uma pessoa ou até mesmo um animal que passa por uma privação material, até a “doação” de carinho, compreensão, compaixão, respeito, tempo e amor – onde talvez seja esta sua forma mais elevada. Mas devido aos nossos apegos e a nossa mania adquirida nesta e em várias existências, de viver uma vida auto-centrada, mesmo quando aparentemente estamos ajudando alguém, podemos estar pensando em nós mesmos e exercitando nossa grande falha: o egoísmo, a raiz de todos os erros. É aí que entra o ensinamento das mãos: onde uma, por mais próxima que esteja da outra, não pode ver o que a outra dá, caso contrário, não será a verdadeira caridade cristã e sim vaidade travestida de amor ao próximo. Vaidade que não é nada mais que o ego enfeitando a si mesmo.

Segundo os textos kardecistas, “quantos há que não prestam um serviço se não com a esperança que o beneficiado irá gritar o benefício sobre os telhados, que na claridade darão uma grande soma e na sombra, não dariam uma única moeda?” Os holofotes da falsa caridade, desta que se utiliza da miséria alheia para promover políticos, empresários e todo tipo de pessoas que necessitam mostrar sua vaidade e exercer seu poder, são muito limitados. Diferente da luz da verdadeira caridade que nada pede em troca, a falsa caridade não esquece nunca que ajudou e não pestaneja para cobrar seu preço. Como bem colocou um amigo dias atrás, há ainda quem faça “promessas” às custas da miséria alheia, julgando estar fazendo um grande ato de caridade. Pessoas que por ignorância ou por uma espiritualidade distorcida, “jogam” com Deus numa espécie de tabuleiro divino, onde quando Ele realizar seus desejos, a caridade será realizada e uma determinada pessoa ou instituição será ajudada. Mas hora! A fome, o frio, a miséria de nosso semelhante terá que esperar então até que nosso desejo seja recompensado para então podermos ajudá-lo? Será isso um ato de verdadeira caridade? Dizem os textos espíritas e cristãos que qualquer tipo de ajuda e caridade é melhor que nada, pois ao menos minimizamos o sofrimento de alguém, mas nossa caridade só será completa, verdadeira, se for de coração, com amor e se nada esperarmos em troca a não ser a satisfação de quem ajudamos. As verdadeiras caridade e generosidade deixam o beneficiado a vontade ao contrário da caridade orgulhosa que esmaga a pessoa e a torna cada vez mais dependente do “benfeitor”. Por isso que tanto um verdadeiro amigo ou um “bom governo” (se é possível existir um) devem sempre almejar a emancipação do outro e do cidadão – não sua dependência seja ela qual for. Mas sua liberdade para exercer sua humanidade. Isto também é um ato de caridade! Lê-se no Evangelho Segundo o Espiritismo: “O sublime da verdadeira generosidade é quando o benfeitor, mudando de papel, encontra o meio de parecer ele mesmo beneficiado em face daquele a quem presta serviço”.