domingo, 17 de junho de 2012
Democracia na imprensa
Por: Everton Pereira
Em: Butiá Notícias (15-16/06/2012)
Apesar da omissão (ou medo) do Governo Federal e da satanização que a
grande mídia ainda faz do tema, é inegável que existe uma crescente mobilização de
partidos políticos de esquerda e da sociedade civil organizada em torno da
necessidade da regulação das comunicações no Brasil. Regulamentar a mídia é o
mesmo que regular, verbo de origem latina que significa estabelecer regras para;
estabelecer ordem; acertar, ajustar. Um dos papéis fundamentais do Estado
democrático é exatamente “estabelecer regras” – políticas públicas – relativas aos
diferentes setores de atividade existentes numa sociedade para servir ao interesse
coletivo. Já que este Estado existe, que seja para o bem coletivo e não para sustentar uma burocracia inoperante ou uma eterna classe de privilegiados.
Nos últimos tempos, a classe dominante conseguiu em todo mundo, imprimir
sua ideologia do chamado “Estado mínimo” - o ideário neoliberal. Os resultados
desastrosos dessa política tornaram-se evidentes, a partir de 2008, com a crise global dos mercados financeiros. Mas mesmo em tempos neoliberais, uma atividade foi e
continua sendo objeto da regulação do Estado: as comunicações, reunindo os antigos
setores de telecomunicações e radiodifusão e o novo espaço das TICs, as tecnologias
de informação e comunicação. Nossos vizinhos como a Argentina, a Bolívia, o
Equador, a Venezuela e o Uruguai, e também na Inglaterra ocorre intenso debate sobre
a democratização das mídias. Só o Brasil fica mais uma vez de fora, como no caso dos
arquivos dos tempos da ditadura.
São muitas as razões que justificam o papel regulador do Estado nas
comunicações. A mais evidente (certamente) é a revolução digital pela qual passa o
setor, que dissolveu as fronteiras entre as telecomunicações (telefonia, transmissão de imagens e dados), a comunicação social (rádio, televisão) e as TICs. Uma razão talvez menos evidente é a centralidade cada vez maior das comunicações nas democracias contemporâneas. A universalização da liberdade de expressão adquire um caráter fundante para a construção da cidadania ativa e republicana. Mas não se trata apenas de uma questão legal. Regulamentar as comunicações implica o Estado cumprir
seu papel de garantir a universalização da liberdade de expressão, assegurar maior
diversidade e pluralidade de vozes no debate público e possibilitar a construção cidadã de uma opinião pública republicana e democrática através de conselhos públicos e não estatais.
Para tanto é preciso que a classe política deixe de ser submissa e aliada
histórica da grande imprensa na velha política do “não mexa comigo que não mexo
contigo”, para encarar de frente, o problema do monopólio das comunicações que
assola o Brasil desde os tempos coloniais. Já que o governo que aí está não foi capaz
de fazer nem a Reforma Política ou a Tributária, talvez por pressão da imprensa
alternativa - mais organizada e coesa - dê passos importantes para a democratização
da mídia neste país.
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