domingo, 15 de julho de 2012

Palavras de uma trabalhadora da educação


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícas(13-14/07/2012)

Foi publicado na última semana no site do CPERS, Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul, um artigo chamado “Desabafo de uma professora”, escrito pela Pedagoga com habilitação em Supervisão Escolar e professora de séries iniciais do Currículo por atividades e Didáticas do Ensino Médio, Kerly Ferro. O teor do artigo nos remete a um exemplo que vive os milhares de professoras e professores da rede estadual de ensino neste Estado. Estado governado por um governo que desrespeita não só a lei ao não pagar o Piso Nacional aos professores, mas entrando na história como sendo “mais do mesmo”, ou seja: mais um governo que trata os servidores públicos estaduais como cidadãos de segunda classe e retira direitos conquistados com muita luta e suor. Pela sinceridade que serve de espelho a todos nós trabalhadores e trabalhadoras da educação é que transcrevo partes do artigo escrito pela brava professora Kerly:

“Na faculdade, estudava todas as tardes e algumas noites, além de fazer estágio pelas manhãs, durante 8 semestres. Hoje, concluo pós-graduação em psicopedagogia e desde que me formei, jamais deixei de me atualizar através de cursos e formações. (...) Hoje leciono 60 horas, com duas nomeações, via concurso público. Falo isso para que todos saibam qual é o perfil real do professor do nosso Estado, pois a grande maioria de meus colegas tem formações como a minha ou mais. É uma das profissões onde mais se estuda, se forma, se atualiza. Somos profissionais efetivamente comprometidos com a educação, indo sempre além de nosso limite para prepararmos aula no pouco tempo que nos resta, por trabalharmos três turnos de modo que consigamos sustentar nossos filhos e pagar a prestação do carro financiado em 72 vezes. Somos pessoas preocupadas com o aluno, com sua aprendizagem, em dar conta das avaliações, das reuniões, dos pareceres, enfim... (...) Então fazemos um concurso público como este realizado pela Secretaria Estadual de Educação, onde temos uma reprovação de 93% entre as quais me incluo por ter deixado de acertar apenas uma questão de Legislação, mesmo tendo ido muito bem nos demais quesitos. E tenho de ouvir do Secretário de Educação que o grande número de reprovação se deu pela má formação dos profissionais que realizaram o referido concurso. (...) Sr. Secretário de Educação, cuide com o que fala para profissionais como nós, pois ou somos professores extremamente comprometidos com alunos fruto de uma sociedade paternalista, que visa a perpetuação da miséria com crianças ignorantes ou somos vítimas de um sistema onde recebemos tudo de mão beijada e agora nos cobram coisas que não nos deram: a capacidade de ir em busca dos objetivos através do esforço efetivo, do estudo, da consciência da responsabilidade individual. Se nossos alunos não entenderem que só depende deles o crescimento pessoal, continuarão sendo analfabetos funcionais. E, definitivamente, NÃO É CULPA DO PROFESSOR, que faz das tripas coração e, mesmo assim, só recebe críticas da sociedade, que acha que professor tem de ser saco de pancada, tem de ser psicólogo, dentista, médico, mãe, pai, babá, qualquer coisa, menos fazer seu trabalho que é levar a aprendizagem àqueles que deveriam vir EDUCADOS de casa, que é a função da família. Que médico faria o trabalho de um dentista? Mas o professor tem de fazer vários papéis e ainda assim é desprezado. (...) Tornarmo-nos cada vez mais frustrados pelos resultados desta sociedade paternalista que deveria levar o professor no colo e não culpá-lo por todos os erros de uma sociedade, onde cada governante só olha para seu próprio umbigo e, na verdade, não está ligando para a educação. Contanto que tenha votos suficientes para eleger-se na próxima eleição. Se os governos se importassem com a educação e as pessoas, não daria bolsa isso ou aquilo, mas daria condições de trabalho honestas e decentes para o cidadão sustentar seus filhos. Daria condições reais e autonomia ao professor; valorizaria seu trabalho pagando um salário justo e reconhecendo a importância desse profissional. Mas isso não dá voto! (...) ”

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