domingo, 17 de março de 2013

O Papa quer ser pop



Por: EVERTON PEREIRA
Em: 15-16/03/2013

Passados mais de 1.500 anos do fim do Império Romano, relances de história nos são trazidos pela escolha do novo Bispo de Roma. Com a conversão romana ao catolicismo quase quatro séculos após a justiça romana ter condenado Jesus a pena de morte em voga na época, não foi só os deuses romanos que passaram a ler a bíblia, mas a Igreja virou Católica (do grego “universal”) e foi reestruturada de acordo com a administração e burocracia romana. Ainda hoje, cargos religiosos da Igreja tem o mesmo nome que possuíam na administração pública do Império, entre eles o do próprio imperador que assim com o Papa, era chamado de “Sumo Pontífice”. Era a exata união entre a religião e governo, assim como permanece em vigor ainda hoje na cidade-Estado do Vaticano, uma das raras monarquias absolutistas do mundo.

O estranho disso tudo, a meu ver, é que acostumamos a falar de papas e conclaves sem falar de Cristo e muito menos de seu Pai. A herança desta misturança romana-católica de fé e política fez da Igreja Católica Apostólica e Romana um credo talvez “muito deste mundo” - tanto para o bem quanto para o mal. O novo Papa e seus eleitores parecem saber disso. A escolha do nome é o primeiro indício. Mesmo que seja aos olhos de alguns (como aos meus, por exemplo) uma verdadeira heresia um Papa, alguém que parece estar mais próximo de César do que de Deus, querer comparar-se com aquele que foi um dos maiores exemplos de espiritualidade da tradição cristã, São Francisco de Assis, o ato no mínimo indica a preocupação com as questões ambientais e com o retorno a uma humildade inicial da Igreja. Humildade que o argentino Jorge Mario Bergoglio faz questão de expor a cada aparição, seja através das vestimentas ou da comunicação fácil e direta.

Sem dúvida são avanços e novos caminhos positivos. Mas é importante lembrar que o cardeal Bergoglio pertence à ala conservadora da Igreja e por tanto não deve trazer mudanças mais ambiciosas. Ao escolher um latino-americano Roma demonstra sensibilidade com a importância geopolítica que a região vem tendo na última década e me parece que da mesma forma que elegeu um polonês para combater o comunismo durante a Guerra Fria, agora tenta se aproximar e entender um pouco mais esta América Latina de governos contraditórios, mas no mínimo com personalidade. Continuamos a falar em papas, mas nada de Deus. O motivo pelo qual a Igreja existe por mais de 2 mil anos que é a fé e os ensinamentos de Jesus, raramente foram alvo dos noticiários ou entrevistas sobre o conclave. Este mundo cada vez menos sagrado, dessacraliza a própria Igreja. A transforma como o próprio Francisco afirmou: “em uma ONG caridosa”. O mundo que ela não mudou e teima em não ser mudada por ele. A grande tarefa do Papa Francisco talvez seja justamente simplificar a Igreja assim como tentou um dia seu xará: dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

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