sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Desencanto com a política

O desencanto político

Publicado no Portal de Notícias de 30 de julho de 2010

Dados divulgados semana passada pelo Tribunal Superior Eleitoral confirmou o que todo mundo já sabia e se não sabia desconfiava: diminuiu o número de eleitores jovens no Brasil. De 2006 pra cá, ano da última eleição para presidente, o número de eleitores com idades entre 16 e 17 anos, caiu cerca de 25,65%. O motivo pode ser como afirmam alguns cientistas políticos o fato do Brasil viver um período de acomodação democrática em sua história. Seria uma espécie de “evolução natural” da implantação e da construção de um sistema democrático mais consolidado. Algo semelhante vem acontecendo há décadas nos países europeus e mesmo nos Estados Unidos e no Japão. Nesta perspectiva o que poderia mudar tal situação seria a entrada de novos nomes com novas propostas e ideias no cenário político ou então, que aconteça uma mudança grave, uma crise no atual sistema que gerasse a necessidade de discussão de novos paradigmas - e isto nem sempre ocorre de maneira pacífica.

Fato é que os números não mentem. Se, de acordo com o TSE o número total de eleitores aumentou em 7,8%, por que o de eleitores jovens diminui tanto? Parte da resposta pode ser encontrada na tese de uma acomodação democrática como a referida logo acima, mas só ela não dá conta do problema. Com a globalização econômica e a disseminação quase que totalitária de valores individualistas e consumistas, há também uma privatização da política, aliás, como de todo o resto. A importância desta prática para o próprio sucesso do sistema é fundamental porque inibe qualquer pensamento mais crítico e transformador. Ela exerce uma função conservadora da democracia liberal e representativa.

O quadro político por sua vez é lamentável. Pessoas sem a mínima conexão com as mudanças que o mundo vem sofrendo nos últimos tempos exercem funções essenciais para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Há um descompasso enorme entre os políticos e seu tempo e um dos motivos disto acontecer é a falta de novos quadros. Mesmo o surgimento de novas figuras, não raras vezes é somente uma máscara. Novas caras com velhos pensamentos. Um dos exemplos mais recentes são as declarações dadas pelo candidato a vice presidente na chapa de José Serra, o deputado Índio da Costa de trinta e poucos anos e já envolvido em processo de CPI no RJ, que acusou o PT de ter ligações com as FARC, num velho temor de conspiração comunista. O mesmo cidadão é responsável por projetos de leis que multam quem der esmolas para mendigos e dificulta a permanência deles em locais públicos com alteração nas estruturas de calçadas e marquises, tudo na velha ideologia da “limpeza social”. Esconde-se a pobreza ao invés de acabar com ela.

Pesquisas recentes apontam que entre os jovens o desencanto maior é com o Poder Legislativo. Em nível nacional, por exemplo, o chefe do Executivo, bate recordes de popularidade. Isto deve-se aos escândalos de corrupção serem em número bem maior nas Câmaras e Assembléias. Vereadores, deputados e senadores envolvem-se mais em problemas desta natureza. Uma nova linguagem tanto estética como programática deve ser inserida na política e isso só pode ser feitos pelos jovens e para os jovens. Caso isso não venha a ocorrer, corremos o risco de perpetuar a atual alienação, além de fortalecer ideias de caráter autoritário.

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