sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nenhum tapinha!


Um tapinha não dói?

Publicado no Butiá Notícias Edição 611 de 06 e 07 de agosto de 2010

O presidente Lula encaminhou ao Congresso Nacional um projeto de lei que prevê a proibição de qualquer punição física as crianças. Logicamente que o assunto deu pano pra manga, assim como tudo que se refere a mudanças de costumes. A opinião pública e a mídia basicamente dividiram-se mais uma vez entre os críticos e os apoiadores da iniciativa. Alguns chegaram a chamar o projeto de “autoritário” por que estaria o Estado metendo o bedelho onde não é chamado, ou seja, na família. Outros viram a proibição à punição contra as crianças como um avanço. Um reforço aos direitos de crianças e adolescentes que são pouco respeitados neste país.

Confesso que na infância fui um “guri impossível”. As palmadas não foram poucas. De meu pai em menor número, mas com (bem) mais força. De minha mãe, embora seguidas, eram quase carinhos. No meu caso, pouco ou nada adiantaram. Somente a maturidade e o fim da energia infantil fizeram o menino arteiro se acalmar - se é que se acalmou. Sempre o que me botava mais medo eram os castigos: sair da invernada do CTG, lavar a louça ou ficar trancado no quarto enquanto ouvia os amigos jogarem bola na rua. Isto sim foram motivos de tristezas, arrependimento e de meditação. Como minha mãe sempre dizia e diz: “castigo dói mais”.

Hoje quase e já pai, concordo com ela e também com o projeto do presidente. Mudanças culturais são difíceis, mas necessárias. Se pararmos para pensar, a única forma de violência tolerada no mundo moderno é o direito dos pais baterem em seus filhos. Logo neles a quem tanto amamos. Aos inimigos não podemos nem lançar violências verbais sob pena de sermos acusados de calúnia ou difamação. Mas aos pequenos podemos dar “tapinhas pedagógicos”. Não posso concordar com isto e muito menos com o velho discurso liberal contra toda e qualquer suposta “intervenção estatal”.
Como é difícil enxergarmos a nós mesmos dentro do processo histórico. O mesmo argumento que hoje diz ser direito (quase sagrado) dos pais “educarem” seus filhos com bem entenderem. foi utilizado em relação ao casamento com a velha e conhecida frase: “Em briga de marido e mulher, ninguém mete colher”. Esta mentalidade sustentou durante séculos a violência doméstica com o mesmo raciocínio da “independência familiar”. Graças a Deus os países democráticos meteram a colher no “seio familiar” e passaram a punir a violência contra a mulher. Um bom exemplo é a Lei Maria da Penha que completou 4 anos esta semana.

Este é um pensamento novo ao qual devemos nos adaptar na mesma medida em que nos debruçamos sobre ele. Mas no fundo, por menor que seja a palmada. Por mais que só um tapinha não doa, trata-se de violência contra alguém indefeso. Com tapinhas, palmadas e beliscões (pra não falar de surras) estamos ensinando aos nossos filhos que a violência é uma forma legítima de solucionar conflitos e não é. Como já dizia Gandhi: “a violência jamais solucionará um problema que não possa ser resolvido sem ela”. Por isso: menos tapas e mais palavras.

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