domingo, 26 de setembro de 2010

Cuba e a Revolução




CUBA

Publicado no Butiá Notícias Edição nº 618 em 24 e 25 de setembro de 2010.

Analisar Cuba, um dos últimos países a ser governado por regime de partido único através do PCC não é tarefa das mais fáceis. Cair no maniqueísmo improdutivo é o que mais ocorre em se tratando deste debate. Fidel Castro, maior líder vivo da Revolução de 1959 que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista (aliado dos EUA) proferiu declarações no mínimo atípicas, em entrevista recente ao jornalista estadunidense Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic. Fidel, que cedeu seu lugar a frente do governo ao irmão Raul Castro em 2006 por motivos de saúde, afirmou que “o modelo cubano não funciona nem para a própria ilha” além de fazer uma autocrítica a discriminação de homossexuais no início da revolução e de acusar o presidente iraniano Mahamoud Ahamadinejad de anti-semitismo ao negar o Holocausto judeu.

Seja por senilidade como acreditam alguns, seja por convicção ou autocrítica, fato é que o octagenário líder cubano ainda é capaz de se reinventar e pensar no futuro de seu país e do mundo. A Revolução Cubana, ou seja, a instalação de um verdadeiro Estado socialista não terminou e as palavras de Fidel a Goldberg reafirmam isso. O alinhamento a União Soviética durante o período da Guerra Fria contribui para a economia da ilha atingir seu apogeu, mas por outro lado caiu nos mesmos erros do regime soviético. A Revolução nasceu em um mundo e em uma geopolítica muito diferente da atual. A reformulação dentro da própria construção do socialismo é necessária para que não ocorra o fracasso da experiência. Para isso, a tarefa de Raul Castro é realizar reformas políticas e econômicas capaz de criar uma aproximação com o governo Obama ao mesmo tempo, que tenha nos países progressistas da América Latina, modelos a serem levados em consideração.

Diferente da ideia em voga em meados do século 20, a chegada do socialismo não se dará mais por meio de uma revolução armada como foi o caso da cubana, mas por meio de uma revolução democrática, baseada na superação gradual do Estado burguês capitalista para uma economia de tipo socializante e popular. Conceitos como liberdade de expressão, pluripartidarismo e participação popular são chaves na construção desta nova sociedade. Os movimentos sociais, mais do que os próprios partidos políticos, são peças chaves para o sucesso de tal impleitada. Para a construção do socialismo democrático o qual defendemos, duas coisas são de fundamental importância: a internacionalização (ou “globalização”) da economia socialista como já pregava Trotsky em 1917 e o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas. Há tempos Oscar Niemeyer vem dizendo que “socialismo é divisão da riqueza, não da pobreza”. Para socializar a riqueza e os meios que a produzem, antes é necessário estimular - com planejamento estatal - a iniciativa privada que estimulará o progresso científico e tecnológico, por exemplo.

Desta forma, Cuba terá três caminhos a sua frente: o pior deles será simplesmente aderir totalmente a economia de mercado como fizeram os países da antiga União Soviética e praticamente leiloar o país; o intermediário e não menos pior será seguir o modelo chinês que mescla uma economia capitalista com uma casta política intacta e autoritária; o terceiro e mais positivo modelo é seguir o caminho trilhado com paciência, cautela e moderação pelos países da América Latina, principalmente o Brasil. Neste sentido o futuro de Cuba seria o da criação de uma economia mista, que invista na propriedade privada considerando sempre o papel do Estado e a finalidade social da economia. Assim, novas forças produtivas surgirão na ilha e uma reinvenção de um novo socialismo poderá brotar como a rosa que o simboliza. Assim, Cuba se espelharia em seus filhos mais jovens e atualizados como o Brasil, Uruguai, Equador, Bolívia e até mesmo a Venezuela. Infelizmente a Revolução requer paciência e não será feita da noite para o dia como em 59. Com a vitória de Dilma e da esquerda nas eleições da próxima semana, aumentará ainda mais a chance do Brasil ser o modelo a ser seguido pelos cubanos, que não se curvam, mas estão dando uma lição de inteligência e humildade ao mundo.

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