domingo, 5 de dezembro de 2010

O que diria Che?



A ILHA EM MUDANÇA

Publicado no Portal de Notícas em 26/11/2010

Autor: Everton Pereira

As mudanças estruturais e de conceitos anunciadas há três anos pelo então presidente interino Raúl Castro, parecem começar a tomar forma e espaço na vida social e econômica cubana. Após treze anos de espera, o Partido Comunista Cubano convocou seu VI Congresso que se realizará em abril do ano que vêm. Nele espera-se que sejam tratadas as mais radicais mudanças no sistema econômico da ilha desde a Revolução de 1959. Entre elas está prevista a descentralização da economia por meio de maior autonomia empresarial, o enxugamento do Estado com a demissão de 500 mil servidores e a supressão de muitos subsídios.

Junto ao anúncio da realização do Congresso, o governo cubano iniciou a distribuição em larga escala para a população de um documento de 32 páginas intitulado “Proyecto de lineamientos de la política econômica y social” que contém 291 propostas de mudanças no modelo econômico, produtivo, comercial e social para o país e que será discutido durante o Congresso. As propostas visam à superação da crise atual que se deve basicamente a dois principais fatores: o bloqueio norte-americano a ilha e o fim da União Soviética em 1989, principal patrocinadora do regime cubano.

Um fator é importante realçar em todas estas movimentações produzidas pelo presidente Raúl Castro: a suposta “ditadura comunista” denunciada pelos EUA, seus aliados e a grande mídia conservadora, incluindo a brasileira, é relativisada no momento em que o governo cubano chama para a discussão e conhecimento das mudanças propostas, grande parte da população através da distribuição massiva do “Proyecto de lineamientos...”. Esta clara ação de participação popular converte o texto em um documento de debate social e partidário que visa à busca de acordos, divergências e a construção de mudanças tática, concretas e estratégicas para o aperfeiçoamento do modelo econômico do país.

As mudanças foram anunciadas garantindo que “o sistema de planificação socialista continuará sendo a via principal para a direção da economia nacional”, o que insere estes esforços dentro de uma lógica de continuidade do processo revolucionário e manutenção do socialismo. Mas pouco ou quase nada se fala em reformas no campo político, fazendo com que as mudanças não alcancem o sistema unipartidário e a estrutura de governo. Se assim for, tudo indica que Raúl Castro quer transformar Cuba em uma “mini China” combinando aspectos ditos “socialistas” com a economia de mercado, criando de fato um capitalismo de Estado.

Uma encruzilhada passa a se formar no horizonte cubano. As reformas econômicas poderão, de forma positiva, ser uma estratégia para aumentar as forças produtivas e assim socializar a riqueza e não a pobreza como acontece há anos. Ou negativamente, ser um retrocesso com a adesão ao modelo chinês que une o que há de pior no capitalismo (a exploração da mão-de-obra) com o que há de pior no “socialismo” (o totalitarismo político stalinista). Espero que a primeira alternativa seja a desejada e para tanto, o aprofundamento da revolução iniciada por Che, Fidel, Cienfuegos e Raúl junto ao povo cubano deverá além de pensar a economia, criar de fato uma verdadeira democracia socialista na América Latina.

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