terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

FSM: dos zapatistas ao Egito



Por EVERTON PEREIRA

Em 1994 quando no México e no restante do mundo reverberou o grito zapatista pela dignidade indígena e pela construção de uma sociedade mais justa, foi riscado o primeiro palito de fósforo que ascenderia a ideia de que “um outro mundo é possível”. Cinco anos depois com as manifestações em Seattle que impediram a realização da reunião da Organização Mundial do Comércio – OMC, o segundo palito foi riscado. Neste rastro veio Ignacio Ramonet com seu editorial histórico no Le Monde Diplomatique chamando todos à luta “contra o pensamento único”.

E as massas responderam e deram continuidade as agitações mundo a fora. As bases para a construção de um espaço de debate contra o neoliberalismo e a viabilidade de um mundo pós-neoliberal estavam prontas. Uma espécie de “Nova Internacional Socialista” surgia. Agora mais plural, mais amadurecida e sem uma finalidade estática a ser alcançada, mas sim com um inimigo comum a ser derrotado: o pensamento único neoliberal.

Nestas condições, em oposição também ao Fórum Econômico de Davos surge o Fórum Social Mundial. Não para discutir números e contar dinheiro, mas para discutir gente, discutir um futuro sustentável e digno para toda a humanidade. Na definição do local onde se realizaria o primeiro FSM estava presente a ideia de que deveria ser na periferia do sistema, em países onde o “neoliberalismo way of life” havia deixado suas vítimas. A melhor escolha? América Latina. Nosso continente era o laboratório experimental desta “fase superior” do capitalismo. Fernando Henrique Cardoso no Brasil e Carlos Menen da Argentina seguiam passo a passo a cartilha da liquidação do patrimônio público a grupos privados internacionais.

Em meio a privataria neoliberal, uma trincheira de resistência era erguida em Porto Alegre. A experiência petista na capital gaúcha fez da cidade referência da esquerda mundial e, portanto, local digno de receber a primeira edição do evento. O Orçamento Participativo aliado a construção de uma esquerda forte liderada por um partido como o PT, era o mais próximo daquilo que chamamos de “socialismo democrático”, a antítese do burocratismo soviético e do “frankestein” chinês.

Direitos humanos, economia solidária, igualdade racial, a luta internacional das mulheres, o direito a livre orientação sexual, a ecologia, a construção de uma cultura de paz, o diálogo entre as religiões e o direito a terra eram e são algumas das bandeiras levantadas pelos construtores do FSM. Um espaço plural, coletivo. Integrado por anarquistas, hippies, comunistas e por monges budistas. Um caminho sem ponto de chegada, mas com ponto de partida: a construção de um novo mundo.

Após 2003 o Conselho Internacional que organiza o FSM decidiu pela alternância de suas sedes: Índia, Quênia, Venezuela... sempre na periferia, sempre entre os excluídos. Também decidiram por atividades “autogestionadas”, sem definição política dos temas fundamentais. O FSM passou a passear pelo mundo. O mundo que ele quer mudar...

O FSM 2011 em Dakar chegou em boa hora: Egito, Jordânia, Tunísia e Iêmem estão vivendo um onda de protestos populares. Estes países, em especial o primeiro são os pilares da união EUA-Israel. Desta forma o FSM passa também a discutir se “Um outro Oriente Médio é possível?”. Os jovens, homens e mulheres tanto que estão no Fórum, quanto aqueles que estão nas ruas do Cairo gritando por democracia acham que sim.

PS: Não queremos nada menos que mudar o mundo, o resto é apagar incêndio.

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