segunda-feira, 7 de março de 2011

Bom retorno, educadores.



Por EVERTON PEREIRA

Um novo ano letivo recomeça e com ele a rotina que só quem é professor sabe o que isto significa. Conciliar, principalmente para as professoras, a difícil tarefa da vida em família com o dia-a-dia na escola. É um novo início, um reinício. Uma nova reconciliação. Filhos, maridos, esposas, contas, sexo, carinho, lazer, grama para cortar, horários, provas, cadernos de chamada, reuniões e é claro, alunos. Uma bela salada de fruta que torna a vida dos professores exótica ou no mínimo, atípica das outras tantas profissões. Profissões, diga-se de passagem, que só existem por causa de vocês, professores, educadores.

Professores e alunos são seres distintos que se complementam, ou deveriam, em condições normais de tempo e temperatura. Conversando com professoras e professores, esta completude me parece cada vez mais rara. Cada um fala uma língua, como numa espécie de imensa Torre de Babel formada por escolas e salas de aula. Os professores reclamam dos alunos e de seus pais, pela “terceirização” da educação que deveria vir de casa e cada vez vem menos. Os alunos garantem que os professores não sabem ensinar e quando sabem, não gostam, são chatos. Há então uma crise e ela teve seu reinício dia 28. Mas o que fazer já que temos um ano inteiro pela frente? Salvo pedir demissão, não há outra saída se não encarar de frente. Não basta “relaxar e gozar”. Empurrando com a barriga aí que não se goza mesmo. Temos sim que fazer uma “DR”. Discutir a relação e rever nossa paixão.

Uma vez ouvi dizer que origem da palavra aluno significa “sem luz”. Se isto tem veracidade histórica, é a maior bobagem que já se disse sobre os alunos. Não preciso citar aqui os pedagogos e teóricos conhecidos e reconhecidos pelos professores para dizer que devemos sim aproveitar “a luz” que os alunos já possuem antes de conhecer a escola. Ninguém ilumina ninguém, a gente se ilumina mutuamente. Somos espelhos um dos outros e isso vale para alunos e professores.

Não gosto da palavra professor, prefiro educador. Professor traz consigo uma hierarquia do saber que nem sempre corresponde a realidade. Além disso, estudar pedagogia, história, matemática e educação física não faz de ninguém educador. Pode até fazer professores, o profissional. Mas como bem diz Rubem Alves: “Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem”. Por isso educação não pode fazer parte da lógica do mercado e da linha de produção. Ser educador é um dom, quase um sacerdócio. É uma vocação e vocação não é profissão. Na primeira, o prazer se encontra na própria ação, na segunda, o prazer vem do ganho que dela deriva. Nossa tarefa enquanto educadores é fazer de nossas salas de aula um grande quarto de brinquedos. Porque é brincando que se aprende. Façamos de nossos conteúdos, não “disciplinas” (termo que até parece coisa de quartel), mas sim brinquedos. O brinquedo desafia, é criativo. A disciplina enquadra, poda, castra.

Não podemos perder a ternura, mas precisamos comer. Com o novo governador as esperanças de respeito aos educadores se renova. Com o Plano de Carreira a rede municipal pode agora vislumbrar dias melhores. Tudo isso sem esquecer nossa vocação. Em “Anjos da Guarda” Leci Brandão canta: “É na sala de aula que se forma um cidadão. É na sala de aula que se muda uma nação”. Bom retorno e ótimas aulas!

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