sábado, 12 de março de 2011

Lilás...


Por Everton Pereira
Em Butiá Notícias (11-12/03/2011)

Nossas mães e mais ainda nossas avós vêem de um mundo distinto daqueles que estamos construindo para nossas filhas. O novo mundo que se desenha neste horizonte lilás do novo amanhecer não é mais restrito a cozinha, ao marido e a “vida doméstica”. Graças a luta das próprias mulheres e de homens que não se deixam seduzir pela falsa sensação de poder e de segurança do machismo (que esconde justamente o oposto: medo e insegurança), hoje elas não são meramente “relativamente capazes”, como previa a Constituição até 1988. Nossas filhas podem agora continuar treinando a maternidade ao brincar de bonecas, mas podem também dizer que além de mães e esposas, quando crescer querem ser médicas, advogadas, empresárias, militares, prefeitas, governadoras e presidentas da República.

“Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres, também possam, no futuro, ser presidenta; e para que todas as brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher” disse Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil, em seu discurso de posse. Passados 101 anos da criação do Dia Internacional da Mulher, a mulher brasileira, mais que talvez qualquer outra no mundo, tem muito a comemorar e refletir. A ascensão de Dilma ao posto máximo da nação é carregada de simbolismo e esperanças. Foi um grande e importante passo para uma camada da sociedade que apesar de ser maioria numérica, só teve direito ao voto obrigatório e universal em 1946. Com uma mulher na presidência encerra-se um ciclo e um novo se inicia. A teoria deve agora virar prática e o discurso tornar-se realidade. Até porque o fato de se ter uma governante mulher, apesar de importante e simbólico, não representa automaticamente progressos nos direitos femininos. Basta ver a experiência fracassada, machista e elitista de nossa ex-governadora. Foi necessário um homem, o governador Tarso Genro, engajado na luta feminista, para que fosse criada uma Secretaria específica para políticas públicas para as mulheres.

O ingresso pela porta da frente na vida política era um sonho, mas não o único. O horizonte lilás é composto por uma complexa variedade de tons, tão complexo como o mundo feminino e a cabeça de uma mulher. Mais que o fim da violência doméstica, dos tabus religiosos e sexuais e da inserção no mundo do trabalho, as mulheres querem mais, muito mais. Não é necessário ser uma delas para saber. Basta conviver com elas, observá-las e entendê-las como seres humanos dotadas de maior sensibilidade, magia e misticismo que os homens. Querem - como todos queremos - ser amadas e amar. Mas também ter o direito de pensar só em si, nem que seja por alguns minutos. Sem sentir culpa ou achar que estão sendo más esposas e mães. Querem inclusive ter o direito de não querer ser mães, muito menos esposas, somente mulheres... O que já não é pouca coisa. Querem talvez um mundo menos cor-de-rosa, carregado de estereótipos, e mais lilás. Onde cada uma seja mulher do seu jeito e de acordo com seu bel-prazer.

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