sexta-feira, 15 de abril de 2011

Tiros em Realengo



Por: EVERTON PEREIRA
Em: Portal de Notícias (11/04/2011)

O massacre ocorrido no dia 07 de abril na Escola Municipal Tasso da Silveira no bairro carioca do Realengo, importa para o Brasil um modelo de crime que até então não fazia parte de nosso cotidiano. Estávamos “acostumados” a assistir nos noticiários crimes e até massacres voltados ao tráfico e a violência urbana, consequencias de problemas sociais. Os assassinatos no país, ao menos em sua imensa maioria, eram diretamente vinculadas a questões financeiras: roubos, assaltos, furtos, rebeliões, sequestros, etc. Raras vezes causas de ordem psicológica e comportamental haviam motivado tamanha barbárie.

A tragédia de Realengo onde o atirador Wellington Menezes de Oliveira fez 12 vítimas fatais e outras dezenas de vítimas físicas e psicológicas, nos deparou com um problema que era “privilégio” dos países europeus e dos Estados Unidos. O documentário do estadunidense Michael Moore, Bowling for Columbine (Tiros em Columbine), por exemplo, sobre o massacre de 13 estudantes ocorrido no Instituto Columbine (EUA) em 20 de abril de 1999 nos mostrava algo que parecia distante de nossa realidade até o último dia 07.

Com o passar do tempo, a revolta e a tristeza decorrente da morte de jovens inocentes, vai se acomodando em nosso inconsciente coletivo fazendo com que uma visão mais lúcida e objetiva sobre o problema seja buscada. Até mesmo a cobertura midiática que como sempre busca transformar em show tudo que produz audiência, cede aos poucos lugar para análises mais sérias, aprofundadas e menos passional sobre do fato. No fundo todos nós nos perguntamos o que faz um ser humano, um jovem de 23 anos, matar de forma fria e calculada seus semelhantes. Por que isso acontece? O que pode ser feito para evitar que uma tragédia como esta se repita? E segundo alguns especialistas, a tendência é que infelizmente tal fato venha mesmo a se repetir.

O que ocorreu em Realengo não pode ser explicado apenas pelo viés da segurança pública, da violência ou mesmo da psiquiatria. São vários e interligados os problemas que levam uma pessoa a cometer tamanha barbárie contra sua própria vida e a de outros. Ao que tudo indica, Wellington vinha de uma frágil estrutura familiar. Era filho adotivo e ainda sofria com a morte recente da mãe. Relatos também garantem que o jovem sofria bullying quando estudava na escola onde realizou o massacre. O acúmulo de frustrações, somada a uma personalidade esquizofrênica cria o quadro ideal para que tal desgraça venha a ocorrer. Nosso sistema de saúde mental é um fracasso. E tão pouco nossas escolas possuem capacidade de dar conta desta demanda diagnosticando os casos mais graves. Assim o problema passa despercebido, até que se transforme numa verdadeira tragédia.

Além da questão da estrutura de saúde para doenças mentais, o massacre de Realengo deve trazer novamente à tona, a questão da quantidade e do fácil acesso as armas de fogo entre nós. Outro facilitador da tragédia que vitimou os doze adolescentes. As duas armas utilizadas no crime eram roubadas e roubadas de pessoas “de bem” que as tinham para “defesa pessoal”. A maioria das armas utilizadas pelos criminosos tem esta origem. Fui voto vencido no referendo do desarmamento em 2005. Votei pelo fim da comercialização das armas de fogo por acreditar que com menos armas em circulação, menor será a chance de casos como este da Escola Tasso da Silveira acontecer. A presidente Dilma já determinou aos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário que criem um novo projeto que estimule o desarmamento. Espero que dê frutos positivos e que desta vez nossa sociedade perceba que armas são feitas para matar e quanto menos armas, menos morte.

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