sábado, 28 de julho de 2012

O desprezo pela educação


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (27-28/07/2012)


Vivemos no país da contradição e da vergonha. Em um território de dimensões continentais, de terras férteis, capaz de sustentar seu povo. Mas que ainda não acabou com a fome e a miséria humana e teima em dar esmola ao invés de cidadania a sua população. Em um país com subsolo cheio de riquezas minerais, mas incapaz de produzir ciência e tecnologia e que perpetua sua dependência em relação ao estrangeiro. Vivemos em um país onde 38% dos estudantes do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita e que o transporte público é um verdadeiro fiasco, impedindo qualquer sonho de sustentabilidade. Mas que graças a megalomania de nosso ex-presidente que não sabe o que são ideais ou ideologia e se move apenas pela ganância de seu ego e do poder a qualquer custo, inventou para bem de fazer graça ao diabo (ou a ingleses e americanos), de realizar neste país não somente uma Olimpíada, mas também uma Copa do Mundo.

Quando descobrimos através de pesquisa realizada pelo INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional) que quase 40% dos alunos dos cursos superiores não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, estamos dizendo que 40% de nossos acadêmicos são analfabetos funcionais. Isso significa na prática que estas pessoas que frequentam universidades não conseguem interpretar a realidade que o cerca e muito menos ser crítica a ela, ou seja: não exercem sua cidadania, não são cidadãos. Não estou falando aqui de alunos do ensino médio e muito menos do ensino fundamental. Imaginem como se encontra o nível de analfabetismo funcional nestes níveis? Falo de um novo mercado criado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e ampliado pelo governo Lula que é o da educação como mercadoria. A proliferação de universidades de baixa qualidade e o desmonte das universidades públicas. Os acríticos e cegos ideológicos irão dizer que ampliaram-se as vagas e é verdade. Mas os resultados expressam-se nos números do INAF e nos bilionários lucros dos empresários da educação. Exemplos são as universidades privadas sem qualquer estrutura e a beira da falência que para continuarem funcionando recebem perdão de dividas milionárias, em troca de meia dúzia de bolsas de estudos. Que tipo de alunos sairão formados destas “faculdades”? É lógico que analfabetos funcionais! Por outro lado os marqueteiros oficiais tentam vender um maior investimento na educação pública e o que se vê são universidades federais paralisadas em greve por todo país, exigindo melhores salários, condições de trabalho e investimento em educação. No Rio Grande do Sul, o estado que menos investe em educação, o Piso Nacional segue a quase 600 dias sendo descumprido enquanto o governo isenta grandes empresas de pagar impostos que poderiam estar sendo utilizados para pagar o investimento em alunos e professores.

Se o ensino superior vai de mal a pior vejam como é o desprezo de nossos governantes pelo ensino médio, responsabilidade do governo estadual. Apenas 35% das pessoas com ensino médio podem ser consideradas plenamente alfabetizadas. De modo geral, ridículos 26% da população brasileira pode ser considerada plenamente alfabetizada. Vivemos em um país onde 74% dos cidadãos não têm a capacidade básica de leitura e escrita. Não conseguem interpretar o mundo a sua volta da mesma forma que não conseguem interpretar integralmente um texto. Estes números foram divulgados no início deste mês e se mostraram os mesmos da última pesquisa do INAF de 2001. Contra dados não há maquiagem política ou discurso populista capaz de vencer. Tanto os oito anos de FHC quanto oito anos de Lula e mais dois de Dilma não fizeram nada além de desprezar a educação. Vinte anos de estagnação! Se deu esmolas. Criou-se mendigos. Deu-se bolsa isso e bolsa aquilo. Livros e conhecimento que é bom, nada! Gerou-se uma geração de analfabetos no lugar de cidadãos plenos de seu lugar na sociedade... Só que cidadãos plenos transformam o mundo em que vivem e transformação é o que menos se quer por aqui.

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