sábado, 11 de agosto de 2012

Mensalão: a opção errada.


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (10-11/08/2012)


O Partido dos Trabalhadores foi criado no início dos anos 80 não só como resultado da luta dos movimentos sociais e de vários setores progressistas da sociedade brasileira pela redemocratização do país, mas também como símbolo contra a corrupção na política. Principalmente em seus primeiros vinte anos de existência, o PT representou o que de melhor existiu na política brasileira, principalmente com a experiência de 16 anos a frente da Prefeitura de Porto Alegre, de São Paulo com Luiza Erundina e em outras cidades espalhadas por todo o Brasil. Mas foi com a ascensão do chamado “Campo Majoritário” nos anos 90, dominado pelos dirigentes paulistas sob o pulso firme de Lula e José Dirceu com uma política mais pragmática que o PT começou um processo sem volta. Se afastou das velhas bandeiras ligadas aos movimentos sociais e a democracia participativa e a aderiu a política de alianças mais flexíveis tendo como única meta o jogo eleitoral. É justamente desta mudança de concepção partidária que vêm o chamado “mensalão”, que consistiu no desvio de recursos públicos para o pagamento de campanhas eleitorais e parlamentares em troca de apoio no Congresso Nacional ao Governo Lula.

Ao contrário do que tem sido afirmado pelos partidos que compõe a base do Governo Dilma, o mensalão não é uma ficção da imprensa com o objetivo de desestabilizar o governo liderado pelo PT. Inclusive o governador Tarso Genro é um dos que afirmam que a mídia está “aumentando a importância dos fatos”. Estranho ser o mesmo Tarso que na época do mensalão pregava a refundação do PT tamanha a gravidade do fato. Talvez o que tenha mudado é que agora, Genro integra a cúpula palaciana petista e não mais precise se afirmar internamente como na época do escândalo, tirando casquinha dos “companheiros”. Segundo as investigações realizadas pela Procuradoria Geral da República e o Ministério Público Federal, há indícios claros de que contratos públicos com agências de publicidade como a do publicitário Marcos Valério, foram utilizados para desviar recursos públicos para o pagamento de campanhas eleitorais e compra de aliados no Congresso Nacional.

Justiça seja feita: o mensalão não foi o primeiro escândalo de corrupção vivido em nosso país! O pecado do PT foi não saber roubar como a velha direita que governava o país há 500 anos e em pouco tempo o esquema de Zé Dirceu veio a tona justamente por confiar nos aliados que sempre foram inimigos do PT. A privatização de empresas como a Vale e das companhias de telecomunicação, bem como a compra de votos para assegurar a reeleição do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, demonstram que a corrupção tinha profundas raízes nos governos tucanos. Antes deles, a cassação do ex-Presidente Collor e as denúncias contra os governos militares e o governo Sarney, já haviam demonstrado que a corrupção é um componente endêmico da política brasileira. O número de ministros que já caíram no Governo Dilma e a atual “CPMI do Cachoeira” mostram claramente que esquemas semelhantes continuam em vigor, ou seja, empresas continuam participando direta ou indiretamente no pagamento de propina e no financiamento das campanhas dos grandes partidos em nosso país.

O mensalão revela as opções do Governo Lula e do PT em favor de uma “governabilidade” baseada em relações fisiológicas e de dependência financeira com as quais os novos inquilinos do palácio do Planalto não quiseram romper. O mensalão é a prova máxima de que o PT e seu governo abriram mão de um programa de mudanças profundas, preferindo a aliança com os partidos da ordem que chancelaram seu apoio em troca e cargos, liberação de emendas parlamentares e, neste caso, pagamento de campanhas e compra de votos. Ou seja, vícios políticos que descambaram para a corrupção aberta visando a perpetuação no poder. Por isso, o mensalão não deve ser visto como um circo da mídia, mas como um problema político, que revela as opções equivocadas daquele que um dia foi um grande partido, em favor deste tipo de governabilidade. Opções estas possíveis pelo atual cenário político que só mudará com uma Reforma Política e Eleitoral - já fora de pauta deste governo crivado de mensaleiros.

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