domingo, 9 de dezembro de 2012

Uma casa de Oscar para todos nós



Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (07-08/12/2012)

Sérgio Buarque de Holanda como todo professor, apesar de ainda universitário, juntava dinheiro que nunca chegava para construir a sua tão sonhada casa. Quem afirma isso são as palavras de Chico, seu filho, em um texto chamado de “A casa de Oscar”. Trata-se de um sonho de Chico Buarque de morar quando ainda jovem em uma casa projetada pelo agora falecido Oscar Niemeyer. O arquiteto hoje reconhecido como um dos maiores gênios da humanidade, apesar da diferença de idade era um grande amigo de Chico, principalmente pela proximidade ideológica e o gosto pelo modernismo. Chico sempre andou entre os mais velhos como Vinícius e Tom que é citado na “carta”. Talvez suas palavras sejam uma amostra do que todo mundo gostaria de ter. Uma casa, um prédio, projetado por Niemeyer. Para sonharmos com a ideia ao mesmo tempo em que homenageio este que foi um dos brasileiros que mais orgulho deu a nossa nacionalidade, transcrevo o texto de Chico:

“A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira. Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquale casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar. Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar.”

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