segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Os holofotes da falsa caridade


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (26-27/01/2013)

Há no kardecismo um ensinamento que afirma que nossa mão esquerda não deve saber o dá a nossa mão direita. Ele fala de maneira profunda e ao mesmo tempo direta sobre a caridade, um conceito que norteia todo o pensamento verdadeiramente cristão e por isso também espírita. A ação da caridade vai desde a forma direta quando ajudamos materialmente uma pessoa ou até mesmo um animal que passa por uma privação material, até a “doação” de carinho, compreensão, compaixão, respeito, tempo e amor – onde talvez seja esta sua forma mais elevada. Mas devido aos nossos apegos e a nossa mania adquirida nesta e em várias existências, de viver uma vida auto-centrada, mesmo quando aparentemente estamos ajudando alguém, podemos estar pensando em nós mesmos e exercitando nossa grande falha: o egoísmo, a raiz de todos os erros. É aí que entra o ensinamento das mãos: onde uma, por mais próxima que esteja da outra, não pode ver o que a outra dá, caso contrário, não será a verdadeira caridade cristã e sim vaidade travestida de amor ao próximo. Vaidade que não é nada mais que o ego enfeitando a si mesmo.

Segundo os textos kardecistas, “quantos há que não prestam um serviço se não com a esperança que o beneficiado irá gritar o benefício sobre os telhados, que na claridade darão uma grande soma e na sombra, não dariam uma única moeda?” Os holofotes da falsa caridade, desta que se utiliza da miséria alheia para promover políticos, empresários e todo tipo de pessoas que necessitam mostrar sua vaidade e exercer seu poder, são muito limitados. Diferente da luz da verdadeira caridade que nada pede em troca, a falsa caridade não esquece nunca que ajudou e não pestaneja para cobrar seu preço. Como bem colocou um amigo dias atrás, há ainda quem faça “promessas” às custas da miséria alheia, julgando estar fazendo um grande ato de caridade. Pessoas que por ignorância ou por uma espiritualidade distorcida, “jogam” com Deus numa espécie de tabuleiro divino, onde quando Ele realizar seus desejos, a caridade será realizada e uma determinada pessoa ou instituição será ajudada. Mas hora! A fome, o frio, a miséria de nosso semelhante terá que esperar então até que nosso desejo seja recompensado para então podermos ajudá-lo? Será isso um ato de verdadeira caridade? Dizem os textos espíritas e cristãos que qualquer tipo de ajuda e caridade é melhor que nada, pois ao menos minimizamos o sofrimento de alguém, mas nossa caridade só será completa, verdadeira, se for de coração, com amor e se nada esperarmos em troca a não ser a satisfação de quem ajudamos. As verdadeiras caridade e generosidade deixam o beneficiado a vontade ao contrário da caridade orgulhosa que esmaga a pessoa e a torna cada vez mais dependente do “benfeitor”. Por isso que tanto um verdadeiro amigo ou um “bom governo” (se é possível existir um) devem sempre almejar a emancipação do outro e do cidadão – não sua dependência seja ela qual for. Mas sua liberdade para exercer sua humanidade. Isto também é um ato de caridade! Lê-se no Evangelho Segundo o Espiritismo: “O sublime da verdadeira generosidade é quando o benfeitor, mudando de papel, encontra o meio de parecer ele mesmo beneficiado em face daquele a quem presta serviço”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário