sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O papa e os direitos humanos



Por: EVERTON PEREIRA

As questões ligadas aos direitos humanos não raras vezes são alvo de polêmicas. Debates apaixonados e quase sempre passionais inundam as redes sejam elas sociais ou televisivas para mostrar “quem defende o ladrão” e “quem quer ver o ladrão morto”. Crimes passionais com requintes de crueldades são utilizados como exemplos pelos eternos defensores da pena de morte. A influência do meio, a miséria, o descaso social e problemas de ordem psíquica são a defesa dos “humanistas defensores da vida”. Sem esmiuçar o caso – não é esta a finalidade aqui – a morte dos assaltantes em Arroio do Ratos é um acontecimento típico que traz a tona a delicada questões que comumente simaplificamos com o clichê de “direitos humanos”. Mas que na verdade é muito mais profundo que isso. Trata-se de “direito a vida” e mais ainda, a “pena de vida”.

O papa em questão no título não é o renunciante Bento XVI, mas seu antecessor, João Paulo II, que sempre achei um conservador (foi chefe do processo de “inquisição” contra Leonardo Boff) disse e escreveu coisas interessantes sobre os direitos humanos e a pena de morte. Disse por exemplo que temos, enquanto sociedade, tecnologia suficiente para manter inofensivo (preso) quem comete um crime e desta forma vivo (pena de vida) para que só assim possa, se possível, se redimir. Em uma de suas encíclicas, João Paulo II afirma magnificamente algo que simplifica isso tudo, inclusive do ponto de vista laico e cristão: é errado ensinar que é errado matar, matando. Mesmo sendo um discurso proferido por um líder religioso, a questão da violência é, antes de mais nada uma questão espiritual e pedagógica. Espiritual porque ela põe em risco e interfere em nosso direito a vida que é algo natural e não pode ser manuseado nem por um Estado nem por uma doutrina qualquer. Pedagógica porque aprendemos muito mais com a ação do que com a teoria. É numa sociedade pacífica que seremos pacíficos e não numa sociedade que mata em cadeiras elétricas ou em fuzilamento e enforcamentos estatais que aprenderemos a paz e a não-violência.

A necessidade de conhecermos a nós mesmos, nossos instintos e desejos primitivos fará com que saibamos lidar melhor com sentimentos e impulsos. Os sentimentos de vingança e raiva, por exemplo, são comuns frente a crimes hediondos, mas é justamente para “frear” esta “irracionalidade” que existe bem ou mal o sistema de justiça. As mensagens de “solidariedade” aos policiais que mataram os quatro homens, apesar de serem a meu ver, desproporcionais ao fato em si - o roubo de bens materiais sem vítimas e com o valor segurado pela rede bancária – é o retrato da insegurança material e psicológica em que as pessoas vivem, onde a morte passa a ser festejada. Cria-se um tribunal de rua nas redes sociais, nas praças e esquinas onde todos sentem-se aptos a julgar o outro. O problema é quando de juízes viramos réus e nós ou o que é pior, àqueles que nos são queridos viram alvo de julgamentos ou de “balas justiceiras”.

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