segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A República de Calheiros


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (08-09/02/2013)

A política é a arte das jogadas ensaiadas, basta ler e ver os noticiários lá e acolá. Indícios de um processo de “limpeza do nome” do estandarte da ética nacional, já haviam sido dados com a indicação do nome de Renan Calheiros para a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. Num atestado de total desconexão com seus representados, os senadores deste país parecem viver numa espécie de mundo imaginário. O pessoal do CQC tirou sua casquinha: “Era pra ser piada, mas é a mais pura realidade!”

A eleição de Calheiros para a presidência do Senado consolida um projeto pragmático e patrimonialista de poder comandado e liderado pelo PT e PMDB. Pragmático porquê não se importa com os meios utilizados para a manutenção do poder, mesmo que seja com a indicação de um político que há cinco anos atrás teve que renunciar a esta mesma presidência devido a uma série de denúncias. Patrimonialista porque mantém o velho cacoete da velha política que mistura o público e o privado, onde grupos sejam famílias, empresas ou partidos apoderam-se da máquina do Estado e passam a utilizá-la para seus interesses restritos e sob a lógica da manutenção do poder, excluindo deste processo a imensa maioria da população, verdadeira proprietária da estrutura pública. Usam o Estado como se fosse seu patrimônio particular.

Para homens como Renan Calheiros, o poder mantém o ego tão embriagado que não lhe passa pela cabeça que o povo brasileiro não é o idiota contente que ele e seus amigos imaginam. Como se não bastasse retomar o posto em que fugiu pela porta dos fundos em 2007, o novo presidente teve ainda o desplante de proferir um discurso sobre ética, tão logo foi confirmada sua vitória. "Eu queria lembrar que a ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o Brasil, é o interesse nacional. A ética é meio, não é fim, é dever de todos nós", disse a seus pares do alto de sua tribuna.

Tanto a eleição de Renan Calheiros como a de Henrique Alves para a Câmara dos Deputados representa mais que a vitória de dois corruptos para o comando do Congresso Nacional. Ela sela a aliança do PT com o PMDB com vistas para as eleições de 2014 e mostra como o governo perpetua as velhas oligarquias em favor de seu projeto de poder, tal como se dá com nome não menos abonadores como os dos ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney. Sem partidos políticos orgânicos e programáticos, com políticos profissionais e não vocacionais e a eterna cultura política latino-americana do populismo e da corrupção endêmica; economia, cidadania e vida política vivem cada vez mais distantes uma da outra no Brasil. Enquanto nada muda, fica o recado do Facebook: “Este Senado não me representa!”

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