quarta-feira, 19 de maio de 2010

VERSOS

Inspiração

Gilberto Mendonça Teles e Pedro Luís

Arranca o couro cabeludo
Arranca caspa, arranca tudo,
Deixa entrar sol nesse porão.
Em qualquer dia por acaso,
Desfaz-se o nó, rompe-se o vaso
E surge a luz da inspiração.
Deixa seus anjos e demônios,
Tudo está mesmo é nos neurônios,
Num jeito interno de pressão.
Talvez se possa, como ajuda,
Ter uma amante manteúda
Ou um animal de estimação.

Pega a palavra, pega e come,
Não interessa se algum nome
Possa te dar indigestão.
O que se conta e se aproveita
É se a linguagem já vem feita
Com sua chave e seu chavão.
A porta se abre é de repente,
Como se no ermo do presente
Se ouvisse a voz da multidão.
E o que tem força, o que acontece,
É como um dia que estivesse
Sem calendário ou previsão.

Fica de espera, de tocaia,
Talvez um dia a casa caia
Talvez um dia a casa caia
E fique tudo ao rés-do-chão:

Fica a fumaça no cachimbo,
Fica a semente no limão,
Fica o poema no seu limbo,
E na palavra um palavrão.

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