sábado, 12 de junho de 2010

Os fins devem ter relação com os meios, nunca justificá-los



Nicolau Maquiavel

Publicado no Butiá Notícias Edição 603 de 11 e 12 de junho de 2010

OS PRAGMÁTICOS E OS ROMÂNTICOS

Maquiavel, o pai da política moderna dizia em uma de suas mais conhecidas e repetidas afirmações que “os fins justificam os meios”. A partir dele, lá no século 15, a política e mais ainda, o poder, passaram a ser objetos de análise com um rigor quase científico. Segundo seu pensamento, o governante (na época reis e príncipes) deveria usar de toda sua inteligência e capacidade no sentido de manter o poder a qualquer custo, “por qualquer meio”. Trazido para os dias atuais, em linhas gerais, o pensamento de Nicolau Maquiavel é o que comumente chamamos, sobretudo na política, de “pragmatismo”.

O pragmatismo parte do princípio de que o sentido de tudo está em sua utilidade. Importante ferramenta para tratar de vários problemas e crises do dia a dia do poder, dos governos e da política, o pragmatismo passou a ser uma regra, seguida por aqueles que se movem com o foco único e exclusivo no voto e no poder - o que para Maquiavel seriam “os fins”. Pensar pragmaticamente a política é diminuir toda sua importância à conquista e manutenção do poder e ver o cidadão de forma utilitarista, ou seja, reduzido a mero eleitor.

Passadas as décadas de Guerra Fria e os tempos onde as ideologias eram mais inflexíveis, podemos dividir hoje os políticos em duas categorias básicas: os pragmáticos (que fazem de tudo para se manter no poder) e os românticos (mais apegados a uma linha teórica e de projeto). Aqueles que mudam de partido rotineiramente e que apóiam alianças políticas contraditórias ideologicamente seriam os pragmáticos, que estão em todos os partidos políticos, com exceção talvez dos extremistas tanto de direita quanto de esquerda.

Indo na contramão do pensamento maquiavélico e pragmático, estão os românticos (chamados também de utópicos e pejorativamente de “sonhadores”) para os quais a política e o poder são meios e não um fim. Vencer uma eleição ou conquistar um cargo é uma oportunidade (um meio) de contribuir positivamente para o bem comum. Assim como entre os pragmáticos, existem românticos em todas as correntes políticas. Entre os liberais ortodoxos que acreditam fielmente no poder benéfico das leis do livre mercado e entre as várias facções da esquerda que defendem um conceito mais amplo e socializante de democracia, do que a mera democracia representativa.

Faço esta análise no sentido de contribuir com o cidadão que este ano especialmente, será também eleitor. Contribuir no sentido de dar subsídios para poder separar o joio do trigo. Pensar racionalmente a política. Articular estratégias de vitória e de governo é fundamental, mas isso deve estar sempre em segundo plano frente a finalidade última da política e do poder que é o bem comum e a justiça social. Como disse, existem maquiavélicos e utópicos em todos os lados, basta saber escolher. Mesmo sendo os românticos em número bem menor, não custa nada sonhar. Custa sim desistir de acreditar. Por que como já dizia o velho Raulzito “sonho que se sonha junto é realidade”.

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