sábado, 21 de agosto de 2010

Carvão, “mato” e estradas



Uma reflexão sobre o passado, presente e futuro (possível) da Região Carbonífera


Publicado no Butiá Notícias Edição 613 de 21 e 22 de agosto de 2010.

A Região Carbonífera possuí um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Rio Grande do Sul. Vários são os motivos que levaram a esta realidade. Uma economia baseada ao longo da história quase que exclusivamente na monocultura do carvão - e depois na silvicultura - foram os principais responsáveis por este quadro. Assim como a economia brasileira foi por séculos dependente da monocultura, primeiro do pau-brasil, depois da cana e do café, aqui também ocorreu algo semelhante. Mas o que devemos fazer? Desistir do carvão? Acabar com a silvicultura, os chamados “matos” de acácia e eucalipto? Não! Muito pelo contrário. Devemos ser inteligentes e criativos o bastante para buscar exatamente nestas atividades econômicas a solução deste problema histórico. E como se faz isto? Através de políticas de redistribuição de riquezas. Alicerçadas justamente na extração do carvão, nos “matos” e no reordenamento de nossa malha rodoviária.

A respeito do carvão, não há a meu ver, como pensar no desenvolvimento regional e mesmo municipal sem levá-lo em consideração. O fator decisivo para o mineral tornar-se um dos principais alicerces de nosso desenvolvimento está na estatização da Jacuí I em Charqueadas. A estatização da termoelétrica deve estar no programa de governo de todos os candidatos que realmente tenham comprometimento com nossa região. Outra alternativa que não torná-la pública, será mais uma entre tantas promessas. O capital privado já se mostrou incapaz de pôr em funcionamento o empreendimento exatamente por operar dentro da lógica do mercado - e não é este o caso. A estatização da termoelétrica deve estar incluída num projeto mais amplo de desenvolvimento regional, onde o Estado (e só ele é capaz de fazer isso) direciona os investimentos no sentido de diversificar a economia regional, distribuindo a renda oriunda da “monocultura” fomentando os diferentes setores produtivos.

Já em relação a produção da madeira onde incluí-se a silvicultura como as florestas exóticas de eucalipto e acácia, deve-se incentivar a manutenção e ampliação desta importante matriz produtiva da Metade Sul ao mesmo tempo em que seja criado um Fundo que tenha como finalidade fomentar e desenvolver a agricultura familiar. O “mato” não pode ser o culpado pelo crescente êxodo rural, mas o contrário, deve justamente ser utilizado para gerar riqueza no campo com sua produção. Deve ser uma ferramenta que mantenha o pequeno e médio produtor na terra. Um Fundo mantido pelas principais indústrias do ramo madeireiro de onde sairia os recursos para financiar projetos de agricultura, pecuária e piscicultura familiar é uma alternativa viável e racional para distribuição de renda e o consequente desenvolvimento simétrico da Região Carbonífera, principalmente na zona rural.

Por último, e não menos importante, vem a questão do transporte. O primeiro passo deve ser a conclusão do trecho da RS 470 que liga Butiá a São Jerônimo além da construção de uma ponte ligando este município a Triunfo. A segunda ação é a revisão dos preços e concessões dos pedágios. Via de regra, os pedágios com os atuais valores astronômicos cobrados, são um dos maiores empecilho ao nosso desenvolvimento. Funcionam como verdadeiras barreiras que desestimulam a instalação de indústria dentro de sua área de abrangência por encarecer o valor do transporte. O raciocínio aqui expresso parte da realidade objetiva. Não adianta ficarmos sonhando com grandes indústrias que finalmente trarão a riqueza para nossa pobre região. São das condições imediatas de nossa realidade que deve nascer a transformação. Fórmulas mirabolantes e promessas de campanha só irão retardar ainda mais este processo. Para crescer, a Região Carbonífera deve usar antes de mais nada as ferramentas que já possui.

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