O esconderijo do Absoluto

NOSSA DIMENSÃO ESPIRITUAL

Publicado no Butiá Notícias Edição 614 de 27 e 28 de agosto de 2010.

O ser humano é constituído de várias dimensões. Não falo aqui em dimensões “extraterrenas” ou algo que lembre filmes de ficção científica. Dizer que somos constituídos de várias dimensões significa dizer que somos múltiplos. Que vários atributos e características nos fazem ser quem somos. Como humanos temos uma dimensão social, outra cultural, uma política, outra biológica, uma sexual, outra profissional, uma psicológica e por aí vai. Estas dimensões são complementares entre si, não excludentes. Quando uma delas é afetada de maneira negativa o problema se prolonga às demais. A felicidade humana reside na harmonia entre suas diferentes dimensões, mas no momento em que uma dimensão entra em contradição com outra, surge a infelicidade, a tristeza e a depressão. E na maioria dos casos, o melhor remédio é trabalhar justamente a dimensão mais “atrofiada” ou “esquecida”.

Além das diversas dimensões que formam o ser humano, existe uma que é essencial a sua realização enquanto tal: a dimensão espiritual. É exatamente por conseguirmos transcender nossa condição física de existência que somos seres humanos, diferentes dos outros animais. Talvez a espiritualidade seja a melhor definição do ser humano. Seu esquecimento, negação, má interpretação ou “atrofiamento” pode resultar em problemas como o uso de drogas, compulsão, depressão, fanatismo e pessimismo em excesso. É na dimensão espiritual de nossa existência que encontramos respostas que em outros lugares não achamos. Respostas que não vem com palavras ou imagens, mas através de um sentimento que vai muito além do conceito de fé e nos dá a garantia que a vida vale por si só. É um sentimento de completude.

Mas de quê espiritualidade estou falando? Que dimensão é esta que para alguns parece tão abstrata e até inexistente? Em primeiro lugar quero fazer uma diferenciação entre religião e espiritualidade. A religião tem sua origem na espiritualidade, mas não é seu sinônimo. As religiões surgem no tempo e no espaço através das mãos humanas. São formas humanas, culturais e sociais de expressar e lidar com a espiritualidade. Grande parte delas tornaram-se instituições e como tais, passaram a agir sob a lógica do poder, da ganância e da exploração. Mas nem por isso perderam totalmente seu vínculo inicial com o sagrado, com o espiritual. Inclusive é por meio das religiões que o ser humano encontra a espiritualidade de forma mais fácil, nítida e didática. Mas a religião não é a única fonte de espiritualidade. A dimensão espiritual vai além do próprio conceito de divindade ou de um deus. Até porque, a espiritualidade baseada na existência de um Deus único, patriarcal e criador é originária de religiões específicas, as monoteístas.

A dimensão espiritual do ser humano merece respeito como todas as outras dimensões que o compõe. Pode ser desenvolvida não só por meio da religião, mas também das artes, da ciência, do esporte e da vida cotidiana. Ela está em total acordo com nossa dimensão sexual, étnica e cultural. Na verdadeira espiritualidade não há espaço para preconceitos ou fundamentalismos. Cada homem e mulher têm o direito de exercer sua espiritualidade da maneira que melhor entender. O importante é desenvolver esta dimensão, que nos faz entender melhor a vida e a morte e assim, nos torna pessoas melhores e mais completas.