sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O que é paternalismo?



Por EVERTON PEREIRA

Ninguém discorda que um bom pai (ou mãe) é aquele que protege seu filho. Mas será um bom pai aquele que protege eternamente seu filho? Uma boa educação, mais que proteger, prepara o filho para o mundo real. Esta sim é a melhor maneira de proteger: ensinar a viver. Ser um bom pai exige por tanto um exercício descomunal de desapego. Um ótimo pai ou uma maravilhosa mãe educam seus filhos de tal forma, que eles não mais precisem deles para existir. No fundo, a gente gosta que os filhos dependam da gente. É como se a dependência fosse prova da existência de uma relação entre nós e eles. Mas esta relação de dependência, que é natural quando eles são ainda bebês, deve evoluir para uma relação de amizade, companheirismo, liberdade, respeito, autonomia e amor. Só assim nossos filhos e filhas serão seres humanos completos e bem resolvidos na vida adulta.

E o que têm a ver tudo isto com o título do texto? Não é da relação pais e filhos que quero falar, até porque me julgo ainda pouco experiente nestes assuntos. O “paterno” aqui é outro. Utilizo a figura dos pais e de seus filhos para falar de algo que parece não ter nada a ver com isso: política. Falo do paternalismo. Uma visão de política extremamente atrasada que prejudica tanto a sociedade quanto a democracia em si e que infelizmente grande parte dos ditos políticos, ainda agem sob a lógica paternalista. Trazendo novamente o exemplo da relação pais e filhos, a prática do paternalismo estabelece uma relação onde o político (ou o Estado por ele governado) assume o papel de pai e a sociedade, o povo, é tratado como se fossem os filhos, os “incapazes”, numa relação proposital de dependência que se auto-perpetua.

Assim como o bom pai, o bom governante é aquele que se desapega do poder e faz com que o povo não mais dependa dele. É aquele que emancipa o povo e não o mantém refém numa relação de dependência e superioridade. O que no dito popular é chamado de “ensinar a pescar e não dar o peixe”. O paternalismo limita a autonomia individual e prejudica a evolução democrática. Ele germina mais facilmente em locais onde prevalece a miséria, a ignorância ou onde o Estado (o governo) não é criado pelo próprio povo e nem há um sentimento de coletividade e pertencimento entre os cidadãos.

A solução está na politização da sociedade. Falo em política num sentido amplo, que vai bem além dos partidos. Politizar a sociedade é torná-la crítica de sua própria condição. Ter consciência de sua história e então iniciar um processo de mudança. O poder público pode contribuir nesta mudança através de mecanismos de participação popular onde o cidadão é chamado a discutir e decidir sobre os temas de seu interesse, de interesse coletivo. O Estado está a serviço do povo, não o contrário. Superar o paternalismo é o primeiro passo que uma sociedade precisa dar para entrar em sua fase adulta. Do contrário, o comodismo popular dá espaço a políticos demagogos e corruptos que tratam o povo como “crianças”, oferecendo a cada eleição “balas” e “pirulitos”.

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