sexta-feira, 15 de abril de 2011

A utilidade das armas



Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (15-16/04/2011)

No referendo sobre o desarmamento que aconteceu em 2005, fui voto vencido. Resigno em minha condição de minoria na defesa do combate ao comércio e posse de armas de fogo por civis, mas não mudo de ideia. E não mudo de ideia justamente porque a cada dia as notícias televisivas reforçam minha convicção: armas de fogo só servem para matar. São fabricadas para isto. Esta é a finalidade de uma fábrica de armas de pequeno, médio ou grande porte: fazer armas que matam. Matam bandidos, mas também matam mocinhos. Mocinhos que por querer “se proteger” dos bandidos, compram armas que são roubadas deles por estes bandidos que depois, bem, depois matam mocinhos e talvez até doze adolescentes de uma escola pública do Rio de Janeiro, ou de Columbine ou de qualquer outra cidade. Bandidos que matam por amor, por prazer, por fome, para comprar drogas, para enriquecer ou por, ter esquizofrenia. Mas as armas chegam lá, onde não deveriam: nas mãos desses bandidos. E chegam em sua maior parte indiretamente pelas mãos dos mocinhos que um dia buscavam “auto proteção”.

Tanto o revólver calibre 32 quanto o 38 utilizado por Wellington Menezes de Oliveira para matar de maneira brutal os estudantes do Realengo, eram roubados. Um inclusive há mais de dez anos. Roubado de um mocinho que um dia queria se proteger dos bandidos, mas que acabou sendo roubado por eles e com a sua arma, causou a morte de doze pessoas – e traumatizou outras centenas – que não tinham nem bem iniciado suas vidas. Eram (bem) jovens. Jovens como o próprio assassino que tinha apenas 23 anos de idade e já tinha duas armas de fogo e muitas balas. A maior parte das armas utilizadas por assaltantes, por bandidos, tem origem em furtos a pessoas “de bem” que compram armas para “se defender da violência”. Hora, comprar armas para se defender de armas, não é algo muito sensato fora dos filmes de bang-bang. Até porque essas armas “do bem” em minutos se transformam em “armas do mal”.

Ninguém parece lembrar que as armas ao contrário das drogas, são fabricadas sobre a tutela dos Estados. Inclusive em alguns Estados, como o norte-americano, é do dinheiro da fabricação delas que sai grande parte dos impostos e também das campanhas eleitorais. Não há como no narcotráfico, fábricas clandestinas de armas. Elas são oficiais. Então é pura hipocrisia que governos, “Estados democráticos”, lutem pelo fim da violência e das guerras se eles próprios tornam lícita tal fabricação. Se não querem guerras, por que as armas continuam sendo fabricadas em massa?

Já que copiamos tudo dos gringos e dos estrangeiros, por que não seguimos o exemplo da Grã-Bretanha? Após um massacre ocorrido em uma escola primária da Escócia em 1996, uma mobilização popular culminou com a proibição total das armas de fogo no país. Depois do ocorrido em Realengo, a presidente Dilma já mandou os ministros da Justiça e dos Direitos Humanos criarem um projeto que estimule o desarmamento. Um bom começo, torço pelos resultados. Espero que a sociedade reflita seriamente sobre a continuidade da existência de armas entre nós. Até lá, os mocinhos seguem armando os bandidos e estes, vão ganhando a guerra que todos queremos acabar. Mas não poderá ser com mais armas e sim com o fim delas.

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