segunda-feira, 25 de abril de 2011

Páscoa



Por: Everton Pereira
Em: Butiá Notícias (22-23/04/2011)

Há uma metáfora dita por um amigo que carrego sempre comigo: “Às vezes é necessário emergir da piscina em que vivemos e olhar acima d’água. Ver o mundo lá fora e respirar o ar puro”. Envoltos em nossa cultura de excessos, de complicações e velocidade, acabamos por perder o foco. Esquecemos de buscar o avesso a tudo isto, que é a simplicidade. Datas como o Natal, a Páscoa e o Ano Novo, por exemplo, são excelentes para parar e refletir um pouco sobre a vida. Sobre a simplicidade perdida. Independente da religião que professamos ou não professamos.

Graças a este mundo das complicações e do consumismo, cada vez mais perde-se o elo com o real significado destas datas. O chocolate, os presentes e as festas ao invés de aproximar, nos distanciam da origem espiritual e reflexiva implícita ou mesmo explícitas nelas. Deixa-se de celebrar o significado, o simbólico, para se festejar o meramente material e mercadológico.

A Páscoa é uma data repleta de simbolismos que vão muito além dos ovos e coelhos, embora estes também sejam metáforas espirituais, mas cooptados pela lógica do consumo. Como uma festa comum a judeus e cristãos, a Páscoa trás em sua gênese o sentido de passagem. A passagem da escravidão para a liberdade no caso do judaísmo e a passagem da morte para a vida, representadas na crucificação e posterior ressurreição de Cristo.

Esta passagem em um sentido mais amplo pode ser compreendida como renascimento, mudança e transformação. Conceitos que podem ser trazidos para o nosso dia-a-dia. Para conquistarmos uma qualidade de vida melhor para nós, para a sociedade e para o Planeta. Nos momentos difíceis, de crise, experimentamos tanto no plano individual como coletivo uma experiência simbolizada pela Sexta-Feira Santa da paixão e morte. Por isso a Páscoa também carrega consigo o sentimento profundo de esperança. Esperança na vida, na derrota da morte, da crise. Esperança na ressurreição do Domingo de Páscoa.

Nossa relação com a Terra, nossa Grande Mãe, por exemplo, está impregnada do sentido da Páscoa. Vivemos em um momento onde literalmente estamos crucificando o Planeta a fim de exauri-lo de seus recursos naturais para saciar nossa sede de posse e de “progresso”. A esperança, o Domingo de Páscoa, reside na mudança de paradigmas. Na transformação de uma cultura do apego e da destruição para uma cultura da simplicidade e da harmonia.

Conta uma antiga história cristã que certa vez um jovem estava em um jardim e teve uma visão de Cristo e o perguntou: "Senhor, quando andavas pelos caminhos da Palestina, disseste que um dia voltarias. Está demorando tanto esta tua volta! Quando, finalmente, retornarás, de verdade, Senhor?”. Depois de uma pausa em silêncio, Cristo respondeu: "Meu irmão, quando para ti, minha presença no universo e na natureza for tão evidente quanto a luz que ilumina este jardim; quando minha presença sob a tua pele e no teu coração for tão real quanto a minha presença aqui e agora; quando não precisares pensar mais nela nem fazeres perguntas como esta que fizeste, então, meu irmão querido, eu terei retornado com toda a minha pompa e com toda a minha glória”. Eis a verdadeira ressurreição presente a cada instante.

Feliz Páscoa!

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