segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Devemos ser como as crianças


Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (12-13/10/2012)

Em Mateus, Jesus é questionado por um seguidor sobre quem é o maior no Reino dos Céus sua resposta é para mim, para além do peso religioso que ela possa carregar, de um caráter profundamente pedagógico e místico. Ao responder ele chama uma criança que está próxima, coloca a mão sobre sua cabeça e fala: “Devemos ser como as crianças para ganhar o Reino dos Céus. Se não vos convertestes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. Só quem convive diariamente com os pequeninos e os observa e tenta os compreender e compreender o seu mundo pode arriscar também tentar compreender o que Jesus quis dizer. Felizmente como pai e educador, tenho a sorte deste convívio e assim como muitos como eu o que me move é entender o mundo e a realidade daqueles que ainda carregam certa pureza original. Falo em Jesus não com a intenção de dar um caráter religioso a este texto, mas pelo simples fato desta passagem bíblica ser talvez a mais clara sobre o que seria o “Reino de Deus” e quem na verdade o compreende melhor que ninguém. O Reino dos Céus não é um lugar no futuro nem no passado. Não é um “outro mundo” como um outro planeta como algumas religiões fazem crer. O Reino de Deus é aqui e agora e para vê-lo, percebê-lo é necessário entender antes de mais nada que ele está dentro de nós. Como o acúmulo de décadas de sofrimento, vícios, hábitos, raiva, desejos, crenças e tudo o que a vida nos impõe e nós aceitamos, acabamos por esquecer isto, mas os pequenos não. Eles estão frescos do Reino dos Céus. Eles vivem neste lugar o tempo inteiro e quem convive com eles sente a pureza e espontaneidade que nós adultos cheios de quereres de deveres esquecemos há tempos. Por isso eles não sabem rezar. Não vão para a igreja sozinhos. Somos nós que ensinamos a eles, nós que precisamos. Eles não, eles falam a língua dos anjos e nós acreditamos que ensinar a rezar é uma grande coisa. Eles não têm vergonha da nudez nem dos puns. Tudo isso é coisa de gente grande...

Quando fui escolher o tema da coluna desta semana havia três em mente: o resultado das eleições, o dia das crianças e o dia dos professores que é na segunda-feira. Descartei o primeiro porque como Jesus, prefiro as crianças. Optei pelo segundo para falar do que mais amo, crianças, minha filha e tudo isso leva a minha profissão, professor. Tudo está misturado. Ser professor é falar de criança o tempo todo e ser pai é ser professor toda hora. Portanto, a homenagem a minha classe já se faz aqui também. Pode parecer preconceito e que seja, mas acho no mínimo estranho quem não gosta de crianças e animais. Não querer filhos é uma opção, mas não gostar de criança é aberração. Deveria se já não há e eu ignoro, ter na área da psicologia algo como “criança terapia” - para quem sofre com algum problema de ordem mental. Sei por experiência própria, de todos os problemas e crises que já passei, foi quando já tinha minha filha e meus alunos que eles pareceram menos duros. Talvez por que os pequeninos ao contrário dos adultos que não perdem a chance de muitas vezes tornar ainda pior o problema, mal sabem que ele exista e abrem para nós, sem cobrar nada, a porta do Reino dos Céus. Desta forma, buscando agora Paulo Freire, é que encontramos sentido em sua afirmação quando ele dizia que aprendemos ao ensinar. Digo que aprendemos até mais do que ensinamos. Ensinamos coisas objetivas, concretas e recebemos em troca conhecimentos subjetivos, sentimentos, carinho o que nas palavras de Jesus era o Reino dos Céus. Conviva com pequenos que verá que fica mais fácil de entender o que a oração quer dizer com “vem a nós o Vosso Reino”.

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