domingo, 20 de março de 2011

A dança de Shiva



Por EVERTON PEREIRA
Em Butiá Notícias (18-19/03/2011)

Na tradição hindu, Shiva é o deus da transformação. Na maioria das imagens é representado dançando, o que simboliza a eterna e constante mudança que estão sujeitos tanto o universo - a natureza - quanto a vida humana. A mudança, a transformação constante, a impermanência, são atributos de toda a existência. Tudo muda o tempo todo. As nuvens no céu, as estações do ano, o curso da história, nossas bilhões de células. Tudo se renova a cada segundo. Heráclito de Éfaso, filósofo grego, afirmava em 450 a.C. que tudo flui e que nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio. Neste caso não só o rio já teria mudado no segundo banho, por causa de sua eterna correnteza, mas o próprio homem também já não seria o mesmo do primeiro mergulho. Mudamos física, biológica e psicologicamente a cada momento.

Passamos por uma época singular na história da humanidade. As mudanças climáticas e a ocorrência regular de terremotos, enchentes e tsunamis nos depara com a fragilidade da vida humana e da civilização frente a força da natureza. Os cientistas dividem-se quanto a causa de tais fenômenos. Existem aqueles que acreditam ser estes fenômenos mudanças naturais e cíclicas. Que ocorre independente da influência da ação humana. Para estes, a poluição e a destruição causada pela sociedade causaria no máximo desequilíbrios locais, como por exemplo, as chuvas torrenciais e rotineiras em São Paulo. Já a outra corrente afirma que é o modo de vida do homem moderno, extremamente dependente dos recursos naturais e adepto cada vez mais do consumismo desenfreado que está causando desequilíbrios de toda ordem no meio ambiente.

A relevância da causa do problema é sem dúvida muito grande. Sabendo o que cria estas mudanças poderemos, quem sabe, se ainda houver tempo, trabalhar para reverter o quadro. Mas o fato é que se por culpa do homem ou por razões naturais, do próprio ciclo do planeta, estamos sofrendo cada vez mais com a consequência destas transformações e também com a angústia de não sabermos onde será a próxima destruição. Tsunami na Indonésia, terremoto na China, cheias semanais em São Paulo, o desabamento da região serrana do Rio, enchentes em São Lourenço do Sul e no Paraná e agora a catástrofe no Japão, parecem querer mostrar o quanto é frágil nosso modo de vida. Assim como o restante dos seres vivos, estamos também nós submetidos às leis da natureza.

Meditar sobre a impermanência, esta lei que rege como o deus hindu toda a existência, é algo que pode nos deixar mais tranquilos e mais aptos na busca de soluções. Todas as coisas são impermanentes. Tudo muda o tempo todo sem parar. Nada é igual nem por um instante. Nada é estável. Nossa mente, nosso corpo, nossa vida, nosso planeta mudam a toda hora. Nosso sofrimento não vem das mudanças, mas do desejo de que nada mude. A vida é movimento. É causa e efeito. O apego a estabilidade é que nos angustia, porque ela não existe. Compreender isto talvez nos faça enfrentar as mudanças da vida e do planeta com mais sabedoria e paciência. Somente em harmonia com a Terra é que poderemos pensar num futuro sustentável para nós e para todos os seres que habitam este mundo.

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