terça-feira, 17 de maio de 2011

O jovem e a utopia



Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (13-14/05/2011)

Creio que a grande crise que vivemos atualmente, para além das crises ambientais e econômicas, seja a crise civilizacional. Pouco a pouco nossos valores enquanto humanidade estão virando peças de museu, palavras esquecidas em velhos livros que ninguém mais lê. Um relativismo infértil toma o lugar do que antes chamávamos de sonhos, ideais e esperança. Alguns dos velhos sonhadores ainda resistem ao tempo apesar da idade e do cansaço de eternamente nadarem contra a maré. A maré da multidão de cegos que perderam a capacidade de ver além. Vivendo somente para a satisfação imediata dos sentidos e do novo Deus Mercado.

Esta crise civilizacional da qual falo é antes de mais nada uma crise da falta de horizontes. De carência de utopias. Nossa civilização está órfã de desejos e sonhos. Coube a juventude historicamente o papel de agente transformador da sociedade. Era sempre os jovens a vanguarda do novo, da novidade, das mudanças. Assim foi na Rússia de 1917. Assim foi em maio de 68 na França. Assim foi no Woodstock e na revolução sexual dos anos 60. Assim foi em toda a América do Sul quando jovens estudantes, armados ou não, lutaram contra as ditaduras que tomaram conta do continente.

E hoje o que restou disso tudo? O que querem os jovens além de celulares, carros, tênis e cerveja? Haverá futuro sem juventude? Sem jovens pensando o novo e o impossível? Creio que não! Como educador e ser político que sou, acredito que a cada indício de ousadia e de idealismo demonstrado por um jovem, é dever regar e estimular estes nobres e raros sentimentos. Para que o futuro seja melhor que o presente... ,

Se é na juventude que habita a esperança de um mundo melhor é nela que devemos apostar todas as nossas fichas. Porém neste processo, também o trigo deve ser separado do joio. Assim como existem velhos sonhadores a serviço do futuro, também existem jovens a serviço do passado. Jovens entregues, por alienação ou vontade, ao pessimismo e a falta de sonhos. Jovens que se contentam com o mundo como ele é. Velhos travestidos em jovens corpos, pregando velhas ideias ou ideia nenhuma. Jovens a serviço do atraso e do preconceito. Jovens conservadores – termo que deveria ser contraditório em sua essência, mas infelizmente não é. Estes jovens não servem para o futuro. Falo aqui de outro tipo de jovens...

Falo de jovens que ainda mantém acesa a chama da utopia em seus corações. Que acreditam que um outro mundo é possível. Que não aceitam como normal a desigualdade e a exploração do homem pelo homem. Falo de jovens de 20, 30 ou de 80 anos que apesar de não saberem ao certo o que querem, têm certeza do que não querem. Sabem que a utopia, como diz Eduardo Galeano, serve para caminhar. Enquanto existirem jovens assim, sei que vale a pena cada dia de luta e de sonhos. Porque sei que uma nova árvore está sendo plantada, embora eu não vá sentar em sua sombra. Finalizo com as palavras de Trotsky, o grande sonhador da Revolução Russa, morto pelo traidor de sonhos que foi Stalin: “A vida é bela. Que as gerações futuras eliminem dela todo o mal, opressão e violência, gozando-a plenamente”. Boa luta aos jovens utópicos desta cidade!

Um comentário:

  1. Texto perfeito,que retrata o pensamento de muitos jovens atualmente. Infelizmente a maioria está fazendo exatamente o que o sistema quer que eles façam pensando em coisas fúteis, em ter o melhor e em parecer melhor, contribuindo cada vez mais para a alíenação e a banalização do mundo. Mas creio que ainda há jovens que abriram os olhos para a vida e perceberam que não há sentido em viver para ser mais só mais um explorado,hoje há jovens que sonham por um mundo igualitário,e eu sou uma desses jovens utópicos e mesmo sendo desencorajada pelas influências contrárias, seguirei até o fim sonhando com um mundo melhor.
    Abraço!

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