sábado, 26 de novembro de 2011

O refúgio na memória



Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (25-26/11/2011)

Talvez um dos piores males que pode se abater sobre uma pessoa seja o esquecimento, a perda da memória. Imagine por um minuto, não reconhecermos ninguém. Não lembrarmos o que fizemos no dia de ontem. Quem é nossa família e amigos. E o que é pior, não sabermos quem somos nós mesmos. Esquecendo até de nosso próprio nome. A memória é algo fundamental em nossas vidas. Podemos até viver sem ela, mas estaremos condenados a uma condição de extrema dependência a outras pessoas e inválidos. É a memória que nos dá identidade. Que nos faz ser o que somos. É o acúmulo de tudo que vivemos e aprendemos no passado que nos faz ser quem somos no presente e nos dá capacidade de projetar e planejar quem pretendemos ser no futuro.

Usualmente quando falamos em perda de memória, estamos nos referindo a pessoas, indivíduos que por causa de um acidente ou doença, perdeu suas referências em relação ao passado. Pouco ou quase nada falamos sobre nossa memória coletiva, aquela que da mesma forma que a individual, nos dá identidade e nos traz o sentimento de pertencimento. Somos brasileiros porque coletivamente compartilhamos de um mesmo passado, mesmo que nem o temos vivido na realidade. Mas foi este passado que nos dá uma noção de relação com os demais compatriotas. É neste passado que está a explicação de nosso presente. Em nossa memória coletiva que estão as explicações dos porquês de tanta coisa que não entendemos e se não entendemos é por que está nos faltando esta memória compartilhada. Um povo que não lembra e ,por tanto, não conhece seu passado, não entende seu presente e não conseguirá planejar um futuro melhor. É um povo que corre o risco de inclusive cometer os mesmos erros do passado, sem ao menos se dar conta, ao invés de ter aprendido com eles – da mesma forma que deveríamos fazer com nossos erros pessoais.

Se nossa memória pessoal está, segundo a neurociência em nosso cérebro, onde está nossa memória coletiva? Ela está em livros, documentos, na memória dos idosos e agora também no mundo virtual, na internet. Mas o lugar por princípio da memória coletiva, seu refúgio preferido, são os museus. É neles que está nosso maior patrimônio, o patrimônio histórico, nossa memória coletiva. Se nas antigas culturais orais o conhecimento do passado estava na memória dos mais velhos, hoje ele está nos museus.
Felizmente em Butiá temos um museu. Um museu que leva o nome de alguém que já faz parte de nossa memória coletiva (e da minha individual). O museu Sérgio Severo Malta apesar de sua recente criação contribui para exercitarmos nossa memória social. É lá que existem, como num jogo de quebra-cabeça, pedacinhos de nosso passado, que somadas as peças, dá sentido a nossa condição de butiaenses. Acabamos por perceber que temos uma trajetória em comum. Que compartilhamos de uma mesma cidade. Tudo isso através de documentos antigos e objetos que hoje já não usamos mais, mas que no passado era o presente. A valorização dos museus e do nosso museu em particular é sinônimo de inclusão social e de identidade. Nos faz percebermos que temos muito mais em comum do que pensamos. São nos museus que está o refúgio de nossa memória. São eles que constituem e armazenam nossa diversidade cultural, étnica e social. São eles que farão que as futuras gerações lembrem de nós no futuro.

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