sábado, 19 de novembro de 2011

Sobre a morte (e a vida)




Por: EVERTON PEREIRA
Em: Butiá Notícias (11-12/11/2011)

Talvez uma das perguntas que acompanha o ser humano desde que ele tomou consciência de sua existência é o sentido da vida, com ela, o que é a morte. Todas, absolutamente todas as religiões tratam dela. Talvez seja exatamente esta indagação que fez surgir as primeiras práticas xamânicas e as primeiras religiões. Saber de onde viemos, porque estamos vivos e para onde vamos depois da vida é uma pergunta recorrente em todas as culturas. Da mesma forma, todas as tradições religiosas têm na morte um aspecto doutrinário importante – umas mais, como o espiritismo e as religiões africanas e outras menos como o próprio catolicismo e algumas ramificações do budismo, como o zen.

A morte sempre teve importância fundamental na vida de nossos ancestrais. Se hoje a Igreja Católica pouco discorre sobre o “além vida”, na Idade Média as pessoas viviam em função da morte, ou seja, seguir normas tidas como sagradas para ter uma “boa vida” depois da morte. O contrário disto era queimar eternamente no “fogo do inferno”. Da mesma forma o espiritismo têm sua existência baseada em um suposto “mundo espiritual”, um “lugar” para onde vamos depois da morte. Se tivermos uma vida regrada, disciplinada, praticando a caridade e o amor ao próximo, não precisaremos reencarnar tantas vezes e estaremos mais rápido junto a Deus. Já para o Zen Budismo, uma ramificação japonesa desta religião nascida há mais de 2.500 anos na Índia, o que vêm depois da morte pouco importa. O que importa é o momento presente em sua plenitude, com sabedoria e atenção já é o necessário. De maneira ainda mais profunda, trata-se de reconhecer o próprio “paraíso” ou o “nirvana” ou mesmo “Deus” aqui e agora, sem pensar no passado e no futuro. Não posso deixar de citar aqui aqueles para os quais a vida se acaba com a morte. Pessoas que não crêem na existência de um Deus ou algo que o valha e acreditam que com a morte se encerra a vida, como se ao morrer, acabasse a consciência totalmente. São os chamados ateus.

Falo da morte e consequentemente da vida por ter sido quarta-feira, o Dia dos Finados. Uma data especial para lembrar e prestar homenagem para aqueles que já se foram. É uma data cristã que teve suas primeiras celebrações no século II, mas hoje é celebrada por cristãos e não cristãos. Em uma sociedade baseada no prazer imediato, no culto ao corpo perfeito, a juventude, ao consumo exagerado, pouco se fala em morte. A maioria das pessoas evitam o assunto, ele significa o afastamento total do mundo material ao qual nosso modo de viver reverencia tanto. Não conseguimos conciliar vida e morte e entendê-la como um processo natural. Só se morremos porque estamos vivos. Porque tivemos a maravilhosa experiência de estar aqui vivenciando a existência. Creio que não importa o que vêm depois da morte. Se um nada eterno, um mundo espiritual, o inferno ou o paraíso. Viver de maneira digna, sem prejudicar ninguém e fazer para os outros o que gostaríamos que fizessem conosco, garantirá algo melhor depois, e se não há o depois, ao menos tivemos uma boa vida aqui e agora.

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